1 de dezembro de 2008

Doenças crônicas e adesão ao tratamento

As doenças crônicas não-transmissíveis reúnem um grande grupo de agravos que lideram as causas de morte nas áreas urbanas brasileiras. Além disso, o envelhecimento progressivo da população e o aumento da prevalência dessas doenças crônicas têm sido apontados como os principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento de incapacidades na idade adulta.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as doenças crônicas atingem quase um terço da população brasileira. Em 2003, cerca de 7% (12,3 milhões de pessoas) dos brasileiros foram submetidos a uma ou mais internações hospitalares no ano anterior e, entre estes, 20,7% tiveram reinternações no mesmo período. Entre as pessoas com 65 anos ou mais de idade, a taxa de internação era duas vezes maior, 14% (IBGE, 2003).
A literatura parece unânime ao colocar como fundamental o papel da adesão no sucesso do tratamento de pacientes com doenças crônicas. Embora não seja um problema exclusivo do tratamento de doenças crônicas, por ser também muito freqüente em outros regimes de caráter prolongado, a falta de adesão ao tratamento nesse contexto se aprofunda em complexidade, parecendo ser determinada por vários fatores, interrelacionados ou não entre si.
O texto abaixo, escrito por um de nossos alunos do nono período de Medicina, aborda aspectos psicológicos e vivenciais relacionados a esse aspecto tão importante da prática médica.

Os pacientes com doença crônica em muito se diferenciam de outros pacientes. Tais pessoas passam muitos anos da sua vida convivendo com dificuldades e privações ocasionadas pela doença. Difícil é conseguir trazer tais pacientes para o nosso cuidar, de tal forma, que não fujam da estrutura de tratamento que se faz tão necessária. Como se sabe, esse tipo de doença, além de gerar muitos conflitos na vida psicossocial do doente enquanto trabalhador funcional, bem como ser de relacionamentos, ocasionando perda da qualidade de vida; aumenta os riscos para muitas outras patologias associadas, as quais, caso não haja adesão ao tratamento estipulado, terão progressão em velocidade acelerada, aumentando ainda mais a morbidade dessas pessoas. Adaptar-se à nova vida nem sempre é fácil, hábitos de anos, trabalhos de uma vida, relações de sempre; tudo se altera quando se tem o diagnóstico de uma doença crônica. Aceitar o problema, em determinados casos, pode ser o mais difícil, mais fácil é "fingir" que nada mudou, que nada de errado existe, que as coisas serão como antes. O médico a isso deve estar atento, um concordar muito esguio, um “vou tentar”, em geral escondem a discordância patente, a desilusão, nesse momento tão presente. A adesão ao tratamento nesse paciente é imprescindível, visto que sem o controle de sua doença não apenas os problemas diretos advindos da mesma se fazem preocupantes e responsáveis por uma alta morbidade, mas as patologias associadas decorrentes da doença de base são responsáveis em uma nova frente para a queda na qualidade de vida, chegando mesmo até uma incapacitação, em certos casos total. O tratamento nem sempre pode evitar a progressão da doença, contudo, ao menos, retardando-a, pode-se aumentar a sobrevida e diminuir a morbidade desses pacientes enquanto vida. Dessa forma, é mister que, por todo o período advindo posteriormente a essa enfermidade o tratamento se faça integralmente e em toda sua extensão temporal, ou seja, por toda a vida do paciente, sob pena de aumento da morbi-mortalidade deste. Não se podem ignorar os efeitos das lacunas assistenciais que permeiam o tratamento, e assim, a problemática dos múltiplos sistemas envolvidos em face das diversas patologias, direta ou indiretamente envolvidas. Esquecer, não se pode, das dificuldades psicológicas que estão presentes na vida desse paciente, que não mais terá sua vida como antes enquanto ação e relação. Sendo assim, mesmo um suporte psicológico pode vir a ser necessário, lembrando sempre da importância da adesão à conduta para a vida futura do doente, e que este apenas será verdadeiramente um paciente, quando verdadeiramente o médico for um homem, enquanto ser humano.

Referência
IBGE 2003 Doenças crônicas atingem quase um terço da população brasileira. http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=370&id_pagina=1. Acesso: 21 fev 2008.