19 de junho de 2009

Motivações associadas à escolha do Curso de Medicina

Por Bruno Melo Fernandes Estudante de Medicina da UFPB (sétimo período), extensionista do Projeto Continuum - Ano II (PROBEX/UFPB)
Medicina é o curso da moda, definitivamente. Na verdade, o curso de medicina sempre teve atenção especial entre todos aqueles do ensino superior mas, atualmente, isso é ainda mais evidenciável. O mais curioso disso tudo é notar que a procura e o interesse pela Medicina aumentam à medida que as vantagens da carreira médica diminuem. O médico de hoje não ganha tão bem quanto antes, não é tão prestigiado quanto antes e nem consegue empregos tão bons quanto antes. Porém, apesar de tudo, fazer medicina ainda é algo extraordinário; ainda há uma valorização considerável do estudante de medicina, ao menos daqueles das universidades públicas. Sendo assim, atualmente, o que motiva um jovem a seguir a carreira médica? A primeira motivação é a financeira, que é inclusive a mais importante para muitos estudantes. O médico, se comparado com outros profissionais, ainda ganha consideravelmente bem, especialmente levando-se em conta as condições de vida e de renda da população no Brasil. Qualquer pessoa deseja escolher uma carreira que o permita ter um futuro confortável e de qualidade, e que o habilite a realizar todos os seus sonhos. Como se sabe, é preciso ter dinheiro para tudo isso, e ser médico parece ser a receita para um futuro de fortuna. A segunda motivação é a social. Esta tem a vantagem de, diferente da motivação financeira, já ser sentida pelo estudante antes mesmo dele se formar. O médico e o estudante de medicina, na condição de futuro médico, recebem atenção especial na sociedade e no meio acadêmico; são rotulados como de inteligência inquestionável e de capacidade superior.

Ser médico, para a sociedade atual, já é, por si só, ter sucesso na vida. Os estudantes quando passam no vestibular para medicina são parabenizados em demasia; fazem-se festas, os parentes especulam sobre as especializações futuras: é como se objetivo, e não o meio, tivesse sido alcançado. Nada disso se vê, pelo menos não com a mesma intensidade, para aqueles jovens que ingressam em outros cursos. Vale ressaltar que todo este prestígio social acaba invadindo a cabeça de muitos médicos e estudantes. Eles acham que todas as qualidades referidas ao médico são verdadeiras e passam a agir como se, realmente, tivessem inteligência superior, capacidade infinita e sucesso garantido. Pode-se dizer que há muitos estudantes de medicina que nem têm ao menos uma dessas características. A terceira motivação é a laboral. O mercado de trabalho para o médico ainda é amplo. É difícil ser o melhor, mas há lugar para todos, mesmo para os piores. Hoje em dia, mesmo que menos que antigamente, não falta emprego para médico. Um curso que oferece a possibilidade de emprego certo logo após a formatura recebe uma atenção enorme de todos os estudantes de segundo grau. É uma condição invejável do estudante de medicina não precisar se preocupar se vai ter condições de conseguir emprego ainda na condição de recém-formado.
A última motivação, não por acaso, é a vocacional. De certa forma, é a menos importante hoje em dia. Não que não haja estudantes apaixonados pela arte de cuidar, vendo na medicina uma chance de trabalhar com a vida, com a biologia do organismo humano e com o comportamento das pessoas. Não que a vocação não seja importante. O fato, porém, é que tal motivação é escondida pelas outras.

A maior parte dos estudantes de medicina gosta da profissão, mas não a faria se não houvesse as outras motivações. O que não faltam nos filões das graduações de medicina são indivíduos já formados em outras carreiras, estudantes que adoram física e matemática, alunos com pavor de sangue, pessoas sem habilidade de trabalhar com outras pessoas, em suma: jovens com muito mais motivações para seguir outros cursos e com características incompatíveis com a prática médica. Esses não seguem essas outras carreiras justamente por não contarem com tanto prestígio social ou compensação financeira; nada tem haver com vocação. A medicina parece ser a garantia do sucesso, e isso realmente pode ser melhor do que simplesmente se fazer o que gosta.

Há outras motivações? Sem dúvida, há a influência dos parentes, mesmo que passivamente, o caráter místico e romântico da medicina no meio leigo, a utilidade e a praticidade do conhecimento médico, a história de reconhecimento e prestígio à medicina no desenvolvimento da humanidade, entre muitas outras razões para se optar pelo curso de Medicina. Porém, de certa forma, todas elas se incluem nas motivações citadas, ou ao menos se apequenam perto delas. As razões para a opção pela medicina estão tão desvirtuadas que os cursos de medicina atualmente estão sendo reformulados para implementar no estudante noções de humanização e de responsabilidade social, características que deveriam ser intrínsecas às pessoas que desejam ser médicos.

Pessoas pouco “humanas” fazendo medicina são provas da existência de motivações erradas. Tudo isso nos leva à seguinte pergunta: Está certo querer ser médico pelo dinheiro e pelo prestígio social? A resposta para essa questão é nebulosa e, na verdade, de pouco interesse prático. O interessante mesmo, o mais importante para o futuro da classe médica seria saber isto: Um médico por ambição pode ser tão bom quanto um médico por vocação?

Crédito da imagem: a figura que ilustra esta postagem foi capturada de http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=258