11 de agosto de 2009

A Transição Epidemiológica

Por Natália Costa de Andrade Estudante de Graduação em Medicina da UFPB (VIII período), extensionista do Projeto Continuum de extensão - PROBEX/UFPB
O desaparecimentode certas doenças, ou a diminuição da sua frequência, gera um processo de substituição que altera perfis epidemiológicos e humanos. Define-se como transição epidemiológica o processo de mudança na incidência ou na prevalência de doenças, bem como nas principais causas de morte, ao longo do tempo. Esse processo está, em geral, condicionado por dois fatores: a) mudanças associadas à estrutura etária da população, ocorridas ao longo do processo de transição demográfica e propiciadas pela rápida queda da fecundidade em um contexto mais suave de declínio da mortalidade. Portanto, entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas.
O processo engloba três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por doenças não-transmissíveis e causas externas; deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos; e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante. O declínio do coeficiente de mortalidade geral , tal como ocorreu anteriormente na Europa ,não é o único aspecto notável no Brasil nos últimos 50 anos. A redução da mortalidade infantil, o aumento da expectativa de vida da população e a modificação do seu perfil epidemiológico foram também observados. Este processo foi descrito como uma transição epidemiológica que caracteriza-se pela evolução progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas para um outro onde predominam os óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, causas externas e outras doenças consideradas crônico-degenerativas. A determinação do perfil epidemiológico da mortalidade deve ser considerada como o resultado de um processo dinâmico, onde as variáveis são interdependentes e podem ter um peso diferenciado, de acordo com o local, com a sociedade e com o tempo histórico. De fato, no Brasil, ambos os mecanismos de mudança do padrão de mortalidade (a adoção de medidas preventivas e o desenvolvimento econômico) ocorrem simultaneamente. No Brasil, a taxa geral de mortalidade decresceu, a expectativa de vida cresceu 20 anos no mesmo período, e a mortalidade infantil decresceu. Em 1930, as doenças infecciosas e parasitárias foram responsáveis por 46% do total de óbitos, enquanto em 1985 elas representavam apenas 7%. Por outro lado, as doenças do aparelho circulatório representavam 12% em 1930 e chegaram a 33% em 1985. Aumentos pronunciados ocorreram com as neoplasias e com as mortes conseqüentes às causas externas: ambas tiveram um aumento proporcional de 3% para 12%. Apesar disso, observa-se que a queda da mortalidade por doenças infecciosas não tem sido acompanhada pela redução de sua morbidade. O Brasil se encontra, portanto, em pleno estágio intermediário de transição epidemiológica, sendo que esta não é uniforme: em alguns estados, ou regiões destes, esta se encontra em fase inicial; em outros, na fase intermediária, e em alguns a transição está quase se completando.Este contraste é observado entre áreas de desenvolvimento diferenciado intra-regionais e entre subgrupos populacionais submetidos a condições de vida também diferenciadas nestas regiões. As doenças infecciosas apresentam maior prevalência nas regiões de precária infra-estrutura e entre as populações mais pobres.
No Brasil, a hipertensão arterial tem alta determinação social.A proporção de trabalhadores de baixa renda em uma população está relacionada com a prevalência da hipertensão arterial. Desta forma, estas doenças não seriam a conseqüência inevitável do processo de envelhecimento da população e sim preveníveis por serem o resultado de modificações do estilo de vida, da relação do ser humano com o ambiente onde vive e do qual faz parte. Assim, as mudanças no modelo de desenvolvimento, no estilo de vida e no comportamento assumem importância para a Saúde Pública. No Brasil, devem se considerar, no processo de transição epidemiológica, componentes sócio-econômicos, culturais, demográficos e ambientais. Referências OMRAM, A. R. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change. Bulletin of the World Health Organization 79(2):161-170, 2001. PRATA, P. R. A Transição Epidemiológica no Brasil. Cad Saúde Pública. 8 (2): 168-175, 1992. SCHRAMM, J. M. A. et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciênc. saúde coletiva9(4):897-908, 2004.
Crédito da imagem: A ilustração desta postagem foi retirada de http://amro.who.int/English/DPI/Number14_article1_2.htm