9 de setembro de 2009

A família do paciente com doença crônica sob a perspectiva da teoria sistêmica

Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB; Monitor de Semiologia Médica e Extensionista do Projeto Continuum PROBEX/PRAC/UFPB

A importância da comunicação no tratamento dos pacientes é inegável. Essa comunicação não deve se restringir à simples troca de informações entre o médico e o paciente: a comunicação é a maior ferramenta do médico dentro da complexa relação com o paciente, sendo muitas vezes determinante para o sucesso do diagnóstico e da terapêutica. O paciente portador de doença crônica, pelo caráter de gravidade e incurabilidade da doença, é aquele que mais representa o fenômeno do adoecimento. O caráter duradouro da doença implica mudanças no perfil psicológico da paciente, que passa a ter novas perspectivas sobre o mundo a sua volta. Nesse contexto, é necessário perceber que a doença crônica, apesar de ser um fenômeno individual, possui implicações coletivas, as quais acometem principalmente a família, pois é o primeiro grupo de relações em que o indivíduo está inserido.

A família, a partir do adoecimento de um dos seus membros, precisa se reorganizar para receber o familiar doente e prestar-lhe apoio. Há uma mudança na hierarquia doméstica, com uma redistribuição de funções e responsabilidades: o paciente torna-se cada vez mais dependente dos familiares e menos contribuinte para a manutenção do lar. Desse modo, a comunicação extrapola a importância médica e passa a ser significativa para o seguimento psicológico e familiar do paciente. O tratamento do paciente com doença crônica é para o médico um desafio, pois requer uma abordagem individual da doença do indivíduo juntamente a um manejo coletivo/familiar do indivíduo doente. Com a evolução do estudo da comunicação pela psicologia e a imersão na prática médica das mais variadas técnicas e concepções psicológicas, foi desenvolvido um modelo de comunicação dito sistêmico. A abordagem sistêmica da comunicação visa a uma integração de todos os outros modelos de comunicação, retirando contribuições de todos eles para reunir, em um mesmo esforço de análise, a descrição dos elementos e processos da comunicação com o entendimento de sua funcionalidade, de sua dinâmica e de seus efeitos gerais sobre as pessoas que se comunicam, no caso médicos, pacientes e familiares.
“O enfoque sistêmico traz a dimensão estratégica das comunicações humanas, quer seja com seus iguais, quer seja com qualquer outro elemento de seu ambiente” (SCHULER, 2004, apud MONTERO). Tudo no universo está relacionado a tudo, nada é separado, isolado. Essa perspectiva sistêmica derivou da "Teoria Geral dos Sistemas", em que sistema é o "conjunto de unidades em inter-relações mútuas". No contexto familiar, o paciente portador de doença crônica é um sub-sistema e o seu cuidado não se restringe à prática clínica, mas todas as mudanças e mecanismos de adaptação às suas novas condições. A família como um todo enfrenta a mudança ocorrida. Essa adaptação gera comunicação, que não se restringe à comunicação verbal. Portanto, o processo de ajudar o paciente articula-se com o conjunto em que ele se insere, o sistema familiar, como refere Watzlawick et al. (1988), que desenvolveram a teoria familiar de base sistêmica. De acordo com Capra (1982), "a concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e integrações. Os sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores. Em vez de se concentrar nos elementos e substâncias básicas, a abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização. (...), mas os sistemas não são limitados a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos por sistemas sociais (...) e por ecossistemas que consiste em uma variedade de organismos e matéria inanimada em interação mútua. (...) todos esses sistemas naturais são totalidades cujas estruturas específicas resultam das interações e interdependências de suas partes." É imperativo que o médico entenda e valorize o caráter holístico do processo de adoecimento crônico e seu impacto sobre a família, e que tenha habilidade de ajudar no processo de união familiar a partir da ruptura da homeostase do sistema. As famílias com doenças crônicas muitas vezes necessitam de ajuda para recuperar seu equilíbrio. 

Referências CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982. MESSA, A. A. O impacto da doença crônica na família. Disponível em psicologia.org.br/internacional/pscl49.htm 
MONTERO, A. Os modelos de comunicação. Disponível em: kaleu.caminha.nom.br/blog/tag/ana-montero/> 
SILVA, C, N. Como o câncer (dês)estrutura a família. São Paulo: Annablume, 2000. WATZLAWICK, P. et al. Pragmática da comunicação humana. São Paulo, Editora Cultrix, 1988


Fonte da imagem: A foto desta postagem foi retirada de http://archive.student.bmj.com/issues/07/09/editorials/images/view_1.jpg