21 de abril de 2010

Elaboração de Resumos para Congressos

A apresentação de temas livres durante os congressos médicos representa importante fonte de informações sobre o desenvolvimento de pesquisas. Pode-se afirmar que grande parte dos trabalhos são produzidos para apresentação e raramente são publicados (YOSHIDA, 2005). Há regras básicas para redação do resumo de trabalho científico a ser submetido a um congresso. Há também aspectos que prejudicam a qualidade dos resumos. Por outro lado, os organizadores de eventos médicos dessa natureza geralmente não estabelecem normas mais claras e específicas para que os participantes corrijam suas principais deficiências na redação dos textos dos resumos, de maneira a melhorar sua qualidade. Santos e Pereira (2007) afirmam que as orientações das comissões científicas dos congressos

estão restritas, usualmente, aos temas abrangidos pelo evento, à forma de envio do material, à obrigação do apresentador do trabalho estar inscrito no evento, ao formato como os trabalhos devem ser apresentados – o tamanho da fonte, o espaço entre as linhas, o número de palavras e a necessidade do texto especificar o objetivo, materiais e métodos, resultados e conclusão – e a data limite para submissão dos trabalhos.
Enfim, geralmente não são fornecidas informações detalhadas sobre a estrutura do texto como, por exemplo, a necessidade de se especificar o delineamento do estudo, a forma de seleção da amostra, as limitações ou as implicações dos resultados para pesquisas futuras sobre o tema. Mas parece que esta deficiência não é característica apenas nossa. Paravic-Klijn e Burgos-Moreno (2009) também demonstraram semelhante carência nos resumos publicados nos trabalhos médicos no Chile. Deveriam ser fornecidas orientações mais específicas sobre a elaboração do resumo e a qualidade dos resumos deveria ser critério para seleção dos melhores para apresentação oral (SANTOS; PEREIRA, 2007).

Para o pesquisador o resumo é um instrumento de trabalho. Mas não apenas para o pesquisador é necessário aprender a escrever resumos de trabalhos. Mais cedo ou mais tarde o graduando de Medicina e o médico residente precisarão elaborar um resumo.
A Norma NBR 6028, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, define resumo como "apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto". Uma apresentação sucinta, compacta, dos pontos mais importantes de um texto. A norma da ABNT recomenda que o resumo tenha até 100 palavras se for de comunicações breves. Um bom resumo permite aos leitores identificar rápida e precisamente o conteúdo de um artigo, determinar sua pertinência para seus interesses e, assim, decidir se têm que ler o trabalho em sua totalidade. O resumo deve a) indicar os objetivos principais e o alcance da investigação, b) descrever os métodos empregados, c) resumir os resultados e d) enunciar as conclusões principais.
Quanto ao estilo, a simplicidade, aliada à correção gramatical e ao domínio do tema específico contribuem para a redação de um resumo adequado. A busca a simplicidade é fundamental. Este é o chamado Princípio da Parcimonia que, quando empregado criteriosamente, contribui muito para a qualidade da pesquisa. Proposto no século XIV por Guilherme de Occam (1285-1347), é um dos fundamentos da epistemologia científica, e tem como enunciado: "... não multiplique as coisas desnecessariamente, afirmando entia non multiplicanda praeter necessitatem" (Apud CABRAL FILHO, 2004).
Portanto, quanto menor, melhor será o resumo, desde que o sentido permaneça claro e não se sacrifique a exatidão.
Muitas vezes, um avaliador de resumos em congressos científicos julga pelo mérito, pela conveniência, se determinado resumo é adequado para aquele fórum ou não. Porém, ele pode também recusar a inscrição de um resumo mal escrito, embora o trabalho fosse adequado para aquele congresso e de boa qualidade metodológica e científica. Então é preciso aprender a fazer um bom resumo. De acordo com Fernandes (2002), um resumo não deve servir de introdução ou de apresentação do conteúdo, na ordem em que ele aparece no texto principal. O resumo deve ser auto-explicativo, não deve fazer referência a qualquer trecho do corpo do trabalho a ser apresentado nem deve conter citação bibliográfica. Palavras desnecessárias como "os autores" ou "este artigo" devem ser deixadas de lado. Requerem-se frases curtas, bem redigidas e completas. O verbo deve estar na voz ativa.
Contudo, apesar de haver várias regras úteis, só se aprende a ser um bom resumidor com a prática. Mas recomendo a leitura do livro "Resumos e Indexação" de F. W. Lancaster (2004), com referência completa abaixo.
Referências
CABRAL FILHO, J. E. A interrelação dos princípios metodológicos e dos princípios éticos na investigação e na publicação científica. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 4 (3): 225-228, 2004. 
FERNANDES, C. T. Como escrever um artigo científico. 2002. Disponível em: do http://comp.ita.cta.br/writingcenter/dicas.htm) Acesso em 21 abr 2010. 
LANCASTER, F. W. Indexação de resumos: Teoria e Prática. Brasília: Briquet de Lemos Inf. e Com., 2004. 
SANTOS, E. F.; PEREIRA, M. G. Qualidade dos resumos estruturados apresentados em congresso médico. Rev. Assoc. Med. Bras. 53 (4): 355-359, 2007. ABNT. NBR 6028 – Resumos. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2002. 
PARAVIC-KLIJN, T.; BURGOS-MORENO, M. EVALUACIÓN DE CALIDAD DE RESÚMENES DE TESIS DE UN PROGRAMA DE MAGÍSTER EN ENFERMERÍA. Cienc. enferm. 15 (3): 55-68, 2009 YOSHIDA, W. B. A nossa produção científica invisível. J Vasc Bras, 4 (92): 113, 2005.
Foto acima: Apresentação de trabalho do GESME no Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM) em 2009, por Camila de Oliveira Ramalho.