24 de abril de 2010

Minha visão inicial do Internato Médico

Por Mara Rufino de Andrade
Aluna do Internato do Curso de Graduação em Medicina, CCM/UFPB, Campus I
Partindo da premissa de William Osler, de que a Medicina se aprende à beira do leito, foram se norteando as minhas expectativas sobre o Internato. Considerei que seria um momento de muita aprendizagem e totalmente dedicado à parte prática. Imaginei que iria ter a oportunidade de colocar conhecimentos teóricos em prática e que seria também uma forma de se obter mais segurança e auto-confiança. Seria mesmo o final "aperfeiçoador" de uma longa caminhada na graduação. É senso comum que o Internato deveria ser o período mais importante do curso, constituindo uma fase de transição entre a vida inteiramente acadêmica e a vida profissional. Uma das minhas inquietações era o fato de, um belo dia, ir “dormir” estudante e “acordar” médica; e de repente, de um dia para o outro, ter simplesmente que ser responsável pela vida de outras pessoas. Uma forma de amenizar essa mudança súbita seria o Internato, período no qual nós, internos, deveríamos ser melhor preparados para entrar na vida profissional. Esse foi o meu objetivo ao iniciar essa fase; a expectativa era aprender e aproveitar todas as oportunidades para isso. Nesse momento, já se passaram dois rodízios, e muitas dessas expectativas não se concretizaram. Infelizmente, o nosso Internato nem sempre é valorizado e na forma como se encontra, os internos muitas vezes são deixados de lado e ficam sem professores orientadores. Muitas vezes, fazemos apenas a rotina do serviço, sem grandes discussões clínicas, e às vezes temos que somente cumprir horários. Uma das nossas deficiências é a falta de um serviço que atenda pacientes em estados de urgência e emergência. Tenho observado discrepâncias também. Se de um lado nos deparamos com profissionais docentes que trabalham no hospital-escola e não são tão receptivos aos alunos, por outro, encontramos médicos que não são professores, mas que são bastante comprometidos com a orientação discente. Felizmente, por outro lado, também temos professores bastante engajados, que mesmo diante de alguns problemas, são realmente interessados e constroem um ambiente propício para que essa fase ocorra da melhor maneira possível.
Temos bons ambulatórios, o nosso Hospital Universitário tem muitos serviços que funcionam adequadamente; e é possível perceber que, se o aluno tiver um genuíno interesse em participar e aprender, conseguirá assimilar muitas coisas importantes para a sua formação médica. Por isso, apesar dos problemas, o Internato está sendo, sem dúvida, uma fase enriquecedora, não somente do ponto de vista de aprendizado clínico, mas também na dimensão de crescimento pessoal, pelo desenvolvimento da habilidade de lidar tanto com os pacientes, como com os colegas e professores.
Considero que mais do que ficar na posição de crítica dos defeitos dos serviços ou dos professores, devemos tentar aproveitar o melhor que cada um dos rodízios tem a nos oferecer. Naturalmente, é importante também denunciar os problemas e carências existentes e cobrar soluções, mas igualmente, há que se observar que existe grande potencial de aprendizado no nosso Internato Médico.