16 de dezembro de 2010

SEMIOQUIZ: Diplopia e abscessos cutâneos múltiplos

Figuras A e B
Paciente do sexo masculino, 42 anos de idade, com história de uso de heroína por via subcutânea. Foi admitido no hospital com a fala arrastada, diplopia e disfagia. Ao exame físico apresentava ptose bilateral (Figura A), lenta resposta pupilar à luz, paralisia bilateral do sexto nervo craniano, e abscessos cutâneos múltiplos nos braços e pernas. Estes últimos foram cirurgicamente debridados (Figura B). Logo após a admissão, a disfagia progrediu, necessitando de intubação endotraquel para manutenção da permeabilidade de vias aéreas.
Diagnóstico e referência da fonte serão publicados quando forem postadas duas hipóteses diagnósticas.
19/12/2010 - Diagnóstico: Botulismo.

Foi realizada uma eletromiografia, que sugeriu a presença de um distúrbio da transmissão neuromuscular. O diagnóstico clínico de botulismo foi presumido e o paciente recebeu tratamento empírico com antitoxina botulínica equina trivalente e terapêutica antimicrobiana. Os abscessos foram cirurgicamente debridados.

Posteriormente, a toxina botulínica foi detectada no soro e o Clostridium botulinum foi cultivado a partir de secreção dos abscessos.

O paciente foi extubado após duas semanas, mas a recuperação neurológica completa demorou vários meses.

A toxina botulínica interrompe irreversivelmente a estimulação induzida pela liberação de acetilcolina nas sinapses colinérgicas periféricas.

A síndrome clínica resultante é normalmente caracterizada por neuropatia craniana bilateral e fraqueza muscular descendente simétrica.

Injeções subcutâneas ou intramusculares de heroína podem estar contaminadas com esporos de C. botulinum, constituindo um importante fator de risco para o desenvolvimento do botulismo da ferida.

Referência: SAM, A. H.; BEYNON, H. L. C. Wound Botulism. Images in Clinical Medicine. N Engl J Med, 363: 2444, 2010. Publicado em dezembro de 2010.