20 de fevereiro de 2011

Princípio da Refutabilidade de Karl Popper‏

Por Priscilla Ferreira Duarte
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
Karl Popper defendeu que não existe processo algum de indução pelo qual possam ser confirmadas as teorias científicas. Um dos momentos da criação de uma teoria, segundo Karl Popper, consiste na investigação lógica da teoria para verificar se ela apresenta o caráter de uma teoria empírica ou científica. De acordo com esta visão popperiana, o critério de demarcação entre ciência e não ciência reside no fato da teoria se submeter à condição de poder ser refutada. Ele indicou a condição transitória da validade de uma teoria científica. Determinado sistema científico só é válido até o momento em que é refutado, mostrando-se sua falsidade. O refutacionismo tem profundas implicações no Método Científico.

Palavras-chave: Neopositivismo. Epistemologia. Método Científico.

As ciências empíricas são aquelas que estudam, com base na experiência, tanto os fenômenos naturais quanto os sociais. A finalidade é descobrir e explicar os padrões e regularidades desses fenômenos, enunciados rigorosamente sob a forma de leis. As leis genuinamente científicas constituem generalizações corroboradas acerca dos fenômenos que descrevem, permitem realizar previsões rigorosas e são passíveis de ser testadas. O século XX trouxe uma nítida transformação de conceitos epistemológicos que abriram espaço para o desenvolvimento de teorias construídas com base em proposições conjeturais, partindo de um conceito de razão, não já como instrumento de verdade, como foi considerado na modernidade, mas como instrumento de crítica, debate e discussão. Nesse sentido, assistiu-se a um conceito de ciência que, no século XX, adquiriu delineamentos nitidamente diferentes do século anterior. Vários foram os epistemólogos e investigadores da história das ciências que contribuíram para uma superação da concepção positivista da ciência e de forma particular para o surgimento do que se veio a designar por "nova filosofia da ciência". O neopositivismo, também denominado positivismo lógico ou empirismo lógico, propõe um critério de demarcação entre estados de fatos e estados mentais, ou entre fatos empíricos demonstráveis pela verificabilidade e os princípios metafísicos. Entre tais filósofos da ciência, destaca-se Karl Popper. 
Karl Popper (1902-1994), físico, matemático e filósofo da ciência, foi um dos mais significativos defensores da racionalidade crítica do século XX. Ele criticou o critério da verificabilidade do indutivismo empirista do positivismo lógico e propôs, como possibilidade para o saber científico, o critério da não-refutabilidade ou da falseabilidade. Essas considerações sugerem que deve ser tomado como critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema. Popper defende que a Ciência é hipotético-dedutiva (do geral para o particular, ou seja, só é científica aquela teoria que possa ser falseável (refutável). A pedra angular da ideia de Popper de método científico parte dessa atitude crítica que o cientista deve manter. Segundo Popper, a ciência avança através de um processo de eliminação, chamado de "Conjectura e Refutação".

Os cientistas usam a lógica dedutiva para fazer predições a partir da hipótese e comparam, depois, as observações com as predições. As hipóteses cujas predições são concordantes com as observações são confirmadas no sentido em que podem continuar a ser usadas como explicações dos fenômenos naturais. A qualquer momento, no entanto, podem ser refutadas por novas observações e substituídas por outras hipóteses que expliquem melhor as observações. A esta maneira de encarar a inferência científica é dado o nome de refutacionismo ou falcificacionismo. Para Popper: "Independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos." Ou seja, não é nada óbvio que se justifique a inferência de proposições universais de assertivas singulares, por mais numerosas que sejam as evidencias práticas. Karl Popper rejeita o método indutivo na ciência. Para ele, por trás da idéia de indução, encontra-se a convicção errada de que o investigador pode observar e experimentar a realidade sem pressupostos e sem preconceitos. Popper argumenta que não se justifica inferir resultados universais a partir de resultados particulares, mesmo depois de um grande número destes resultados singulares,porque, não é possível especificar “quantos” são necessários para se satisfazer ao critério “um grande número de observações”, ou seja, independentemente de quantos cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos. Sobre os métodos de raciocício científico indutivo, dedutivo e hipotético-dedutivo, ver neste blog as seguintes postagens:
Para Popper, somente a refutabilidade de uma teoria pode ser provada, mas nunca a sua veracidade absoluta. Segundo seu pensamento, a recusa da Lógica Indutiva consiste "em ela não proporcionar conveniente sinal diferenciador do caráter empírico, não-metafísico, de um sistema teorético"; em outras palavras, consiste em ela não proporcionar adequado "critério de demarcação". Popper diz que a invenção de uma nova teoria ou de um novo sistema científico pressupõe que, em qualquer hipótese, para sua validade, devam ser submetidos à prova em um processo de "reconstrução racional". Desta forma, a objetividade dos enunciados científicos reside na condição deles poderem ser submetidos a teste. Por fim, na concepção epistemológica popperiana o jogo da ciência é, em princípio, interminável. Uma teoria submetida à prova e tendo suas qualidades comprovadas não se pode superá-la facilmente sem uma "boa razão , a não ser por outra teoria que resista melhor às provas ou ao falseamento de uma teoria anterior". O refutacionismo tem profundas implicações em relação ao Método Científico. Este processo encoraja uma abordagem que considere múltiplas hipóteses e a procura de testes que permitam decidir entre hipóteses concorrentes através da falsificação de uma delas. Uma vez que a falsificação é o objetivo, este processo tende a despersonalizar as teorias. Isto é positivo por evitar os viéses inerentes à afetividade do cientista em relação às suas próprias teorias. Assim, é a possibilidade de falsificar uma hipótese científica que permite a correção e o desenvolvimento das teorias científicas, e em última análise o progresso da ciência, embora nenhuma teoria possa jamais ser fundamentada de forma conclusiva. O conhecimento é portanto essencialmente conjectural, sendo impossível a certeza definitiva. 

Referências

DAL LAGO, E. M. M. Implicações da Racionalidade Científica em Karl Popper. [Dissertação]. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2006. MARQUES, A. A Doutrina do Falseamento em Popper. Disponível em: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/popper5.htm. Sem data de publicação. Acesso em: 20 fev. 2011.
MOREIRA, M. A. Subsídios metodológicos para o professor pesquisador em ensino de ciências. Métodos quantitativos e qualitativos. Porto Alegre: Ed. do Autor, 2009. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~moreira/Subsidios8.pdf. Acesso em: 20 fev. 2011. 
NEVES, F. R. Karl Popper e Thomas Kuhn: reflexões acerca da epistemologia contemporânea I. Natal (Rio Grande do Norte): Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do RN - FARN, Revista Eletrônica, 2 (1): 143-148, 2002. 

Imagem: Foto de Karl Popper.