16 de março de 2011

Melanoníquia Estriada

Santos e Malucelli (2011) relatam o caso de um homem saudável de 23 anos, afro-brasileiro, que procurou atenção médica por causa de uma linha escura, de 1 mm de largura, ocupando longitudinalmente no leito de seu polegar direito (painéis A e B, figura acima).
Ele observou a presença dessa linha dois anos antes e não houve mudanças no seu aspecto. A linha originava-se na lúnula e estendia-se até a sua extremidade distal, no eixo do crescimento normal, com uma aparência compatível com melanoníquia estriada. A linha não se estendia até a cutícula. Não houve distrofia ungueal superposta, nem histórico de trauma, história familiar de melanoma. Não havia envolvimento de outras unhas. É difícil descartar a possibilidade de melanoma subungueal apenas com a observação clínica, e esta hipótese continuou a ser uma consideração importante para o diagnóstico, apesar de várias características tranquilizadoras estarem presentes. Entretanto, o paciente estava preocupado com a possibilidade de cicatrizes distróficas na unha com a realização da biópsia do leito ungueal, e recusou o procedimento. Após dois anos, a linha escura permanece inalterada, e o paciente não relata novos problemas.
A hipótese diagnóstica sindrômica é melanoníquia estriada. De acordo com Hirata et al. (2001), melanoníquia estriada é o termo utilizado para designar qualquer hipercromia linear marrom ou enegrecida do leito ungueal. É causada por depósito de melanina na lâmina ungueal, sendo mimetizada pela presença de sangue ou cromógenos. Pode ser de origem neoplásica (nevos melanocíticos e melanoma) ou não-neoplásica (constitucional, medicamentos, onicomicose, entre outras).
Saida e Oshima (1989) propõem os seguintes sinais como sugestivos do diagnóstico de melanoma no caso de melanoníquia estriada: 1. A melanoníquia estriada do melanoma aparece durante a meia idade; 2. Faixa de pigmentação em geral maior que 6 mm de largura; 3. Pigmentação em diversos tons de marrom e negro; 4. Pigmentação da dobra ungueal é frequentemente observada (sinal de Hutchinson); 5. Pode haver pequeno grau de deformidade ungueal.
Além disso, o melanoma subungueal afeta apenas uma unha, e a faixa muda na aparência, podendo tornar-se mais larga ou mais escura ao longo do tempo A pigmentação também pode afetar a pele ao redor (da prega ungueal).
O melanoma do aparelho ungueal é apresentação rara dessa neoplasia (0,7% a 3,5% de todos os casos de melanoma). A apresentação clínica mais comum é uma mancha marrom ou negra com pouco tempo de evolução. Portanto, onicomicose, hematoma subungueal, melanoníquia estriada e nevo juncional podem simular este tipo de neoplasia e devem entrar no diagnóstico diferencial. Segundo Mendonça et al. (2004), o derrame de pigmentar melânico nas bordas proximal e lateral da lâmina (referido anteriormente neste texto como sinal de Hutchinson) é indicativo de doença avançada. 

Referências
HIRATA, S. H.; YAMADA, S.; ALMEIDA, F. A. Melanoníquia estriada e melanoma subungueal. Melanoma: Boletim Informativo do GPM, 4 (14), s. p., 2001. Disponível em: http://www.gbm.org.br/gbm/boletim/Edicao14.pdf. Acesso em: 17 mar. 2011.
MENDONÇA, I. R. S. M.; SPINELLI, S. P.; KAC, B. K. et al. Melanoma do aparelho ungueal. An bras Dermatol, 79 (5): 575-580, 2004. SAIDA, T.; OSHIMA, Y. Clinical and histopathoiogic characteristics of early lesions of subungual malignant melanoma. Cancer, 63:556-560, 1989. SANTOS, M. A.; MALUCELLI, T. O. Melanonychia Striata . N Engl J Med, 364: e22, 2011.

Imagem: Santos e Malucelli (2011), referência no texto.