11 de abril de 2011

Relatório do I Seminário de MHB 3 em 2011.1: Grandes Pestes


“Já houve tantas pestes quanto guerras na história da humanidade; entretanto, as guerras bem como as pestes sempre pegam a população de surpresa.”
(Albert Camus, "A Peste")

Realizou-se hoje o primeiro seminário de MHB3 de 2011.1, com 49 alunos da turma (94,5% desta), apresentado pelo grupo formado por Laíse, Rebecca, Bruno Carreiro, Bruno Felipe e Sarah. 

Laíse iniciou a apresentação mencionando a luta secular da humanidade contra as epidemias e definindo o termo "epidemia", com a participação de Débora. Laise continuou ressaltando o conceito de contágio e discorrendo sobre a velocidade de evolução de uma epidemia. Por outro lado, salientou a concepção de exalação de humores corrompidos (miasmas) como causa de doenças infecciosas e da relação das doenças com a influência demoníaca. Estas eram concepções de mecanismos de doença vigentes na Antiguidade Clássica e Idade Média, e que perduraram até o século XVI.

Laise comentou também as consequências sociais das epidemias e o surgimento do termo "quarentena", terminando com a menção da obra do escritor português José Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira", como ilustração do tratamento imposto aos pacientes vítimas de doenças transmissíveis epidêmicas.

Rebecca indicou que o seminário seria apresentado considerando-se a tradicional periodização da História da Humanidade, mencionando, então, as Pestes ocorridas na Antiguidade, a partir de relatos da Bíblia e de obras literárias, como a "História da Guerra do Peloponeso", do historiador grego Tucídides.

Bruno Carreiro continuou a apresentação, mostrando as grandes epidemias ocorridas na Idade Média, destacando a Hanseníase e a Peste Negra. Ressaltou o teocentrismo deste período da história e sua influência no modo de ver as doenças. Apresentou ainda, de forma consequente,  as tentativas de explicação para as doenças naquela época, tais como os maus ares, os astros, Castigo divino, assim como os modos de transmissão relacionados a estas patogenias. Ficou evidente o drama da Peste Negra na idade Média.

Os apresentadores Bruno Carreiro e Laíse exibiram a dramatização de um dos aspectos relatados na história da Peste Bubônica medieval, em que o médico com a peculiar máscara de bico de pássaro evitava aproximar-se do enfermo, prescrevendo à distância e lancetando os seus bubões com varas de até 1,80 m. Terminou a apresentação individual com a menção às contribuições da Peste para a Medicina, como a ideia de transmissão de doenças entre seres humanos e o conceito de quarentena.

Laíse relatou as epidemias da Idade Moderna, começando pela varíola, à qual deu destaque, mencionando a dizimação da população indígena americana pela doença trazida pelos europeus e  relatou as peculiaridades da varíola no Brasil. Relatou ainda o processo de variolização, em que os médicos intencionalmente infectavam pessoas saudáveis com varíola na esperança de que as infecções resultantes fossem menos sérias do que as que eram naturalmente transmitidas e que poderiam conferir imunidade. Fez também referência à obra de Jorge Amado como ilustração literária da varíola no Brasil, citando trechos do livro "Capitães de Areia".

Laíse mencionou ainda a "Revolta da Vacina", conflito popular que aconteceu 1904 no Rio de Janeiro, quando o governo impôs a obrigatoriedade da vacinação em massa da população, seguindo-se outro momento de encenação no seminário, com uma representação rápida de uma ação vacinal à qual uma paciente (Sarah) resiste resolutamente.

Continuou Laíse a apresentar outras doenças, dando ênfase à epidemia da tuberculose, que causou grande impacto na humanidade e foi chamada de "Peste Branca" ou "Tísica". Mostrou também crenças antigas sobre a doença, como sua associação com a genialidade, uma representação social bastante difundida na época (séculos XVII e XVIII), em que a concepção da doença seria própria de pessoas de sensibilidade romântica, típica entre intelectuais e artistas.

Sarah continuou, apresentando as epidemias importantes da Idade Contemporânea, como a própria tuberculose que, afetando sobretudo a classe operária, não despertou atenção do poder público inicialmente. Comentou ainda aspectos sobre a febre amarela, dengue e  Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Salientou a importância da Aids e sua suposta origem, assim como a perplexidade pelo surgimento da infecção no início dos anos 1980, quando os médicos passaram a conviver com sentimentos de angústia e impotência diante da letal doença emergente ocorrendo em escala global.

Bruno Felipe continuou a apresentação, versando sobre  a Gripe Espanhola, a maior epidemia da história da humanidade. Explicou a origem do nome da epidemia, as causas concebidas no início do século XX para a doença e a compreensão atual da sua etiologia e transmissão. Apresentou ainda aspectos históricos da chamada Gripe Suína (pandemia H1N1, 2009) e da dengue.

Por fim, Sarah voltou para apresentar questões contemporâneas de saúde, que alguns autores chegam a rotular como "epidemias contemporâneas", como depressão, transtorno do pânico, obesidade, transtornos alimentares e doenças cardiovasculares. Mencionou o processo chamado de "medicalização" da sociedade e a valorização pela mídia da imagem corporal ideal, além do problema do alcoolismo, tabagismo, drogadição e sedentarismo e sua importância no perfil epidemiológico da população de países desenvolvidos, e também do Brasil, mais recentemente.

Após o encerramento da apresentação, que durou 51 minutos, deu-se início à discussão com a turma, que fez questionamentos espontâneos e estimulados, assim como comentários sobre a apresentação dos colegas. Participaram da discussão Mayara, Marise, Ernesto, José Jeymesson, Ádilla, Ingrid e Alysson. As perguntas foram a respeito do uso generalizado do termo "peste" para todas as
epidemias, sobre a origem da quarentena, o papel dos médicos no enfrentamento da Peste Negra, entre outras.

Uma última pergunta ficou ainda por ser respondida, embora se tenham levantado hipóteses de explicação: por que a origem de muitas das epidemias graves, como a Peste Bubônica, a Pandemia H1N1 e a cólera, é atribuída aos povos do Oriente?

Pesquisando mais detidamente agora, percebo que parece não haver uma explicação precisa para isso. Pensa-se que seja por causa da associação da terra com orientações mágico-religiosas milenares típicas da cultura oriental; segundo cronistas, a peste, de origem oriental, chegou com a ocorrência de terremotos no Oriente e com a proliferação de roedores. Estima-se que 80% das gripes apareceram no sul da China, particularmente na província de Guangdong, onde há milhões se patos, galinhas, porcos e outros animais [
Fonte: Tim Appenzeller, National Geographic, outubro de 2005].

A avaliação do seminário foi positiva, verificando-se, de modo geral, clareza na apresentação, satisfatória revisão bibliográfica, ótimas respostas aos questionamentos finais da turma e sobretudo, criatividade e versatilidade demonstradas nas cenas de dramatização, realizadas como recurso para motivar os colegas e dinamizar a apresentação.

Por fim, vale salientar ainda, pela importância no contexto da História da Medicina, que faltou mencionar a cólera na apresentação de todo o seminário. É importante lembrar que o termo cólera foi usado já por Hipócrates, para designar o quadro de diarréia intensa, vômitos e desidratação. Foram descritas sete pandemias de cólera desde 1817. Durante a sétima pandemia, a cólera voltou a atingir o Brasil, em 1991, como uma infecção reemergente. Em 2001, foram confirmados no Brasil sete casos de cólera, todos na Região Nordeste.

Imagem acima:
Obra "O Triunfo da Morte", pintura em óleo sobre tela do artista flamengo do século XVI, Pieter Bruegel, “O Velho”, em 1562; esta obra retrata o horror que a Peste Negra causou na Europa no século XIV; vê-se o simbólico "exército da morte" avançando, exterminando tudo, deixando apenas uma paisagem de destruição e desolação.