24 de março de 2013

Novos Horizontes para a Compreensão pela Iniciação Científica

Por Tácia Adriana Florentino de Lima
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB. Bolsista do Programa Jovens Talentos para a Ciência / CNPq

Resumo
O estudante de Medicina precisa aprender a ter espírito científico, estar exercendo constante crítica em busca permanente da verdade, e essa capacidade ele aprende  propondo hipóteses,  expondo-as à observação e corroboração. Ele não pode ter uma visão apenas utilitarista de sua profissão futura. Para isso, a iniciação científica amplia seus horizontes na compreensão do mundo. Isso pode ser conseguido através da prática de pesquisa durante a graduação. Assim, o estudante pode desenvolver uma nova racionalidade, ampliar seus horizontes e aprender a ser auto-reflexivo. Despertar a curiosidade do estudante de Medicina é um dos méritos da sua iniciação na atividade científica. Outro é o aprendizado do método científico, que pode levar o estudante a obter uma visão objetiva e racional e a capacidade de aprendizagem constante. A curiosidade, a vontade de saber mais, de estar informado, de ser conhecedor, são necessidades fundamentais na formação médica, assim como o são o desenvolvimento ético e da capacidade técnica.

Palavras-chave: Ciências. Educação Médica. Pesquisa Médica.

Considerando que o modelo educacional acompanha a evolução do paradigma científico, e as propostas de educação inovadoras repercutem no ensino médico, torna-se imprescindível despertar para a importância do fazer e compreender ciência, que é um dos grandes desafios para a formação médica atual. Essa mudança do paradigma educacional tradicional para um paradigma educacional inovador culminou com o surgimento de novos horizontes para a compreensão da ciência pelos estudantes de medicina, o que se reflete, sobretudo, na crescente participação destes em programas de Iniciação Científica e demais atividades que envolvam o binômio ensino-pesquisa no ensino superior.
De acordo com Mitre et al. (2008), historicamente, a formação de profissionais de saúde tem sido marcada pelo uso de metodologias conservadoras, sob forte influência do mecanicismo de inspiração cartesiana e newtoniana, fragmentado e reducionista. Essa fragmentação do saber manifestou-se no processo de ensino-aprendizagem, restringindo, durante muito tempo, a atuação do discente ao papel de mero reprodutor ou expectador do conhecimento. A partir do século XX, com o surgimento de novas perspectivas para a compreensão da ciência, houve uma mudança na concepção então vigente, colocando-se em xeque os valores considerados intocáveis e resultando em uma reflexão sobre a inserção dos futuros profissionais de saúde no contexto de produção científica.
A modernidade transformou conhecimento em poder (TENÓRIO; BERALDI, 2010). Nesse contexto, a produção daquele é “extremamente veloz, tornando cada vez mais provisórias as verdades construídas no saber-fazer científico” (MITRE et al., 2008). Tal constatação acaba por requerer que todos sejam protagonistas e produtores dessa nova ordem, testemunhos vivos das transformações que ela produziu. Pêgo-Fernandes e Mariani (2010) tratam desse tema nas ciências médicas, e afirmam que devido à aceleração do desenvolvimento destas e a constante avalanche de novas informações, a iniciação científica precisa começar a ser realmente considerada um elemento básico na formação do médico.
Diante disso, Rodríguez et al. (2004) apresentam três concepções como pilares do ensino médico inovador: visão holística, abordagem progressista e ensino baseado na pesquisa. As atividades de pesquisa nos cursos de graduação são reconhecidas atualmente como a mais importante maneira de inserir os estudantes na futura prática científica. Como complementação essencial à formação profissional ou técnica, a execução de projetos de pesquisa ajudam na ampliação de visão de mundo do aluno de Medicina, além de possibilitarem o aprendizado prático de planejamento e organização. Ao avaliar a viabilidade de uma pesquisa, reduzir possibilidade de erros e sistematizar sua execução, o estudante aperfeiçoa sua aptidão para exercer atividades referentes à sua futura profissão  (TENÓRIO; BERALDINI, 2010).
Isso coloca como desafio atual para as instituições de ensino superior formar profissionais capazes de buscar o conhecimento, de saber como utilizá-lo e como produzi-lo. Ao contrário de antes, quando o importante era dominar o conhecimento, o importante agora é “dominar o desconhecimento”, sabendo encontrar por si próprio, as respostas às questões  através da pesquisa (BEIRÃO, 2008).
Esse processo de construção da Ciência vem mostrando seu impacto transformador sobre o Homem. Despertar a curiosidade do estudante de Medicina é um dos méritos da sua iniciação na atividade científica (CARUSO, 1998). Outro é o aprendizado do método científico, que pode levar o estudante a obter uma visão objetiva e racional e a capacidade de aprendizagem constante. A curiosidade, a vontade de saber mais, de estar informado, de ser conhecedor, são necessidades fundamentais na formação médica, assim como o são o desenvolvimento ético e da capacidade técnica.
É preciso estimular nos discentes a humildade de frente ao “não saber” – com que o pesquisador se confronta diariamente em sua prática – e daí se depreende o valor da curiosidade, o valor da leitura crítica do mundo. É importante que o estudante aprenda a pensar, e desenvolva a autonomia. Isso pode ser conseguido através da prática de pesquisa durante a graduação. Assim, o estudante pode desenvolver uma nova racionalidade, ampliar seus horizontes e aprender a ser auto-reflexivo.
O estudante de Medicina precisa aprender a ter espírito científico, estar exercendo constante crítica em busca permanente da verdade; isto se aprende propondo hipóteses e expondo-as à observação e corroboração. Ele não pode ter uma visão apenas utilitarista de sua profissão futura. Para isso a iniciação científica amplia seus horizontes na compreensão do mundo.

Referências
BEIRÃO, P. S. L. A importância da iniciação científica para o aluno da graduação. 2008. Disponível em: https://www.ufmg.br/boletim/bol1208/pag2.html. Acesso em: 24 mar. 2013.
CARUSO, F. Processo e Transformação: para além da Ciência. Rev. Bras. de Ensino de Física. 20 (3): 251-258, 1998.
MITRE, S. M.; BATISTA, R.S.; MENDONÇA, J. M. G., et al. Metodologias ativas de ensino-aprensizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde coletiva. 13 (2): 2133-2144, 2008.
PÊGO-FERNANDES, P. M.; MARIANI, A. W. O ensino médico além da graduação: iniciação científica. São Paulo Med. J. 15 (3): 104-5, 2010.
RODRÍGUEZ, C. A.; NETO, P. P.; BEHRENS, M. A. Paradigmas Educacionais e a Formação Médica. Rev. de Educação Médica. 28 (3): 234-241, 2004.
TENÓRIO, M. P.; BERALDI, G. Iniciação científica no Brasil e nos cursos de medicina. Rev. Assoc. Med. Bras. 56 (4): 375-93, 2010.

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