15 de fevereiro de 2014

Discromias da Pele

Por Artur Bastos Rocha
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
O termo discromias consiste no agrupamento das disfunções dermatológicas cuja característica é a alteração na pigmentação da pele, podendo ser por aumento da pigmentação (hipercromia), por redução da pigmentação (hipocromia) ou por ausência de coloração (acromia). A etiologia das discromias é multifatorial, podendo ser a exposição à radiação, raios ultra-violeta (UV), distúrbios endocrinológicos, alterações genéticas, alérgicas, traumas mecânicos ou exposição a substâncias químicas, entre outros. Os locais mais afetados são os de maior exposição ao ambiente externo, como face, braços, mãos, ombros, costas e pernas.

Palavras-Chave: Discromias. Pele. Pigmentação da Pele.

A coloração da pele depende da presença de vários pigmentos endógenos ou exógenos, porém o principal determinante da coloração natural da pele é a melanina (AZULAY, 2006). Discromia é o termo médico que denota um grupo de desordens cutâneas cuja característica principal é a alteração da pigmentação da pele em contraste com o padrão natural pelas alterações na concentração de melanina.
As discromias podem ser classificadas quanto à coloração em hipocrômicas, hipercrômicas ou acrômicas (MACRINI, 2004). Quanto à etiologia, as discromias podem-se classificar basicamente em causas genéticas e causas ambientais (adquiridas), sendo estas últimas de natureza multifatorial, como alterações sistêmicas, infecções de pele, trauma mecânico, exposição a agentes químicos e a radiação, alterações psicogênicas levando a quadros de exacerbação de uma patologia autoimune entre outras causas (AZULAY, 2006).
No estudo da hipocromia, podemos subdividir em dois grupos quanto à patogenia da lesão, sendo estas causas as que cursam com redução do número de melanócitos, as "melanocitopênicas", e as decorrentes da produção reduzida de melanina, as "melanopênicas" (OLIVEIRA, 2003). 
As melanocitopênicas, em geral, são de natureza genética, sendo o vitiligo a condição mais frequente neste subgrupo, de incidência relativamente frequente, em torno de 1-4% na população mundial, resultando de uma interação entre fatores ambientais, genéticos e imunológicos que levam a uma destruição dos melanócitos, tendo uma elevada associação com doenças autoimunes. É caracterizado por manchas acrômicas assintomáticas, de limites bem definidos, com forma e extensão variáveis. Há uma tendência à distribuição simétrica e predileção por áreas como couro cabeludo (poliose), periorbitárias, peribucal, retroauriculares, pescoço, axilas, punhos, dorso das mãos, genitália, face ântero-lateral das pernas, joelhos, maléolos e dorso dos pés. Traumas ou queimaduras de sol podem desencadear lesões. Estes pacientes têm um maior risco para fotoenvelhecimento precoce e neoplasias malignas da pele. O diagnóstico é clínico e auxiliado pela luz de Wood, que torna as lesões mais evidentes (branco-nacarado). É importante salientar que o vitiligo tem forte associação com alterações emocionais, e o fator psicológico nesses pacientes deve ser valorizado, sobretudo pela alta associação com depressão (NOGUEIRA, 2009).
Quanto ao subgrupo das melanopênicas, salienta-se o albinismo oculocutâneo como o principal representante, por ser uma doença autossômica recessiva com prevalência estimada em torno de 1:20.000 indivíduos. Em geral seu diagnóstico é dado ao nascimento, e decorre da deficiência da enzima tirosinase, que pode estar completamente ausente (OCA-1) ou parcialmente funcionante (OCA-2), sendo o número de melanócitos normais (MACRINI, 2004). Outras desordens hereditárias podem determinar lesões hipocrômicas, como xeroderma pigmentoso e esclerose tuberosa de Bourneville, porém com menor incidência em nosso meio (AZULAY, 2006).
Uma outra importante causa de hipocromia em comunidades carentes e meios de aglomeração de pessoas é a pitiríase versicolor, uma micose superficial causada pelo fungo Malassezia furfur. A doença tende à repigmentação após tratamento correto com antifúngicos. 
Uma causa frequente de hipocromia melanocitopênica é ainda a hipocromia senil, em que com o avançar da idade ocorre uma progressiva redução do número de melanócitos dopa-positivos da pele, levando a formação de pequenas manchas hipocrômicas que acabam se distribuindo por todo o corpo, em especial nas áreas de maior exposição a raios solares (AZULAY, 2006).
As hipercromias subdividem-se em melanocitóticas (aumento do número de melanócitos) ou melanóticas (aumento da produção de melanina). No grupo das melanóticas, a principal causa é o bronzeamento, que corresponde a uma hiperpigmentação pelo aumento da produção de melanina em resposta aos raios ultravioleta (UV), sendo reversível quando passa a não mais ocorrer a exposição da pele à luz solar. De natureza patológica, o aspecto difuso de bronzeamento pode ser a melanodermia observada na Doença de Addison, por insuficiência suprarrenal.
Neste grupo de hipercromias melanocitóticas, as melanoses faciais são uma apresentação comum, causando, às vezes, certa desfiguração estética com impacto psicológico considerável. Algumas das causas bem definidas de melanoses faciais incluem melasma, melanose de Riehl, líquen plano pigmentoso, eritema discrômico, eritrose e poiquilodermia de Civatte (KHANNA; RASKOOL, 2011). 
A melanose solar consiste em manchas pequenas de tom castanho-claro ou castanho-escuro, localizadas em áreas de fotoexposição, geralmente em indivíduos acima de 40 anos de idade. É a macha chamada de melasma, que corresponde a uma hiperpigmentação adquirida, uniforme, simétrica, de bordas bem definidas ou irregulares, localizada principalmente na porção central da face (malar, fronte, nariz, mento). Acomete sobretudo mulheres jovens e pardas. Dentre as causas descritas para o melasma estão a exposição solar, a gestação, o uso oral de estrogênios-progestagênios e o uso de difenil-hidantoína e prometazina, que são fotossensibilizantes. O diagnóstico é clínico e auxiliado pela luz de Wood (OLIVEIRA, 2003). Em casos excepcionais pode ocorrer transformação maligna destas manchas, originando uma afecção denominada de lentigo maligno. 
A fitofotodermatose é muito comum em populações que vivem em regiões litorâneas, consistindo em manchas hipercrômicas resultantes da dermatite de contato causada por substâncias derivadas de vegetais que primariamente são inertes, mas em contato com a luz solar podem causar irritação da pele, gerando uma mácula hipercrômica, sendo o limão o principal causador no Brasil (MANCRINI, 2004). 
Uma importante causa hereditária de hipercromia melanótica são as efélides, também conhecidas como sardas, que são manchas pequenas com coloração variando entre o castanho-claro a castanho-escuro, surgindo em áreas de exposição solar, sendo a alteração genética mais associada à neurofibromatose tipo I ou doença de Von Recklinghausen (SOUZA, 2009). O xeroderma pigmentoso também pode cursar com efélides, mas é menos comum. 
Com o avançar da idade pode surgir, além de manchas hipocrômicas senis, a presença de melanoses também, ou manchas senis hipercrômicas, que podem aparecer já aos 45 anos, devido à hiperplasia localizada de melanócitos da junção dermoepidérmica (AZULAY, 2006). O dano solar cumulativo ao longo dos anos altera o número de melanócitos e aumenta sua atividade, levando ao surgimento de manchas hipercrômicas.
No grupo das melanocitóticas, ressalta-se o lentigo como uma apresentação importante, sendo caracterizado por máculas com coloração que varia de castanho-escuro a castanho-preto e que surgem nos primeiros anos de vida e continuam a aparecer até a vida adulta, podendo surgir em qualquer região cutânea, mesmo em áreas de não exposição à luz solar. Há casos em que ocorre disseminação, sendo denominados de lentiginoses que, em alguns casos, podem fazer parte de quadros sistêmicos. 
Existe ainda um grupo separado de hipercromias não-melânicas em que a hiperpigmentação ocorre pelo acúmulo de outro pigmento que não a melanina. A principal representante deste grupo são as tatuagens, mas há também os casos de argiria (pela impregnação de sais de prata), a hidrargiria (contato da pele com mercúrio) pigmentação violeta em áreas de fotoexposição (pacientes que fazem uso de amiodarona de forma prolongada), alcaptonúria (doença autossômica recessiva provocada pela falta da enzima oxidase do ácido homogentísico), entre outras (AZULAY, 2006).
A importância semiológica das discromias é a de que o examinador atente para um diagnóstico de uma doença primariamente dermatológica ou secundária a algum processo sistêmico. Também é importante para a orientação de uma correta terapêutica, já que estes pacientes em geral tem risco aumentado de desenvolvimento de lesões actínicas, neoplasias malignas da pele, queimaduras e outras alterações, visto que estas discromias são decorrentes de uma fotossensibilidade que o indivíduo passa a apresentar ou pela ausência de um mecanismo protetor da radiação, como a melanina.  

Referências
AZULAY, R. B. Dermatologia. Ed. Guanabara Koogan. São Paulo. 4ª Ed., 2006, p.54-64.
KHANNA, N.; RASOOL, S. Facial melanoses: Indian perspective. Indian J Dermatol Venereol Leprol, 77 (5): 552-63, 2011.
MACRINI, D.  J. Avaliação de extratos de plantas da região amazônica quanto à atividade inibitória da tirosinase. Universidade de São Paulo: Dissertação de Mestrado em Ciências Farmacêuticas, 2004. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9139/tde-29102009-101831/pt-br.php. Acesso: 15 fev. 2014.
NOGUEIRA, L. S.C.; ZANCANARO, P. C.Q.; AZAMBUJA, R. D. Vitiligo e emoções. An. Bras. Dermatol.,  84 (1):  2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0365-05962009000100006&script=sci_arttext.  Acesso: 15 fev. 2014.
OLIVEIRA, I. O.; ALMEIDA JUNIOR, H. L.. Conhecimentos atuais sobre a biologia dos melanócitos no folículo piloso humano. An. Bras. Dermatol.,  78 (3): 331-343, 2003 .  
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