13 de janeiro de 2009

Avaliação cognitiva breve no âmbito da medicina geral: Contribuição à semiologia do paciente internado em enfermarias de clínica médica

Ao término da Residência em Clínica Médica, a médica Leila Coutinho Taguchi finaliza sua monografia de conclusão da pós-graduação latu sensu.

Monografia apresentada ao Programa de Residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), Centro de Ciências Médicas, Universidade Federal da Paraíba, para obtenção do título de Especialista em Clínica Médica.

Título: Avaliação cognitiva breve no âmbito da medicina geral: Contribuição à semiologia do paciente internado em enfermarias de clínica médica

Orientadora: Profa. Rilva Lopes de Sousa Muñoz Coordenador da Residência em Clínica Médica do HULW: Prof. Alexandre Henriques Coordenador da Comissão de Residência Médica do HULW: Ricardo Antônio Rosado Maia RESUMO Fundamento: A hipótese de pesquisa do presente trabalho é de que um número significativo de pacientes adultos atendidos no âmbito da clínica médica geral de um hospital terciário, sem queixas neurológicas, apresenta sinais objetivos de disfunção cognitiva, o que reforçaria a necessidade de incluir testes de avaliação cognitiva breve como rotina na semiologia destes pacientes. O rastreamento de déficit cognitivo pode ser realizado na prática clínica e de pesquisa através do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), que é um teste de aplicação relativamente fácil e rápido.

Objetivo: Avaliar a prevalência de comprometimento cognitivo e os principais fatores associados em pacientes adultos hospitalizados na enfermaria de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) através de avaliação cognitiva breve e padronizada.Metodologia: Estudo de modelo observacional do tipo coorte com avaliação breve de comprometimento cognitivo através do MEEM (ponto de corte: 18) de pacientes adultos atendidos nas enfermarias de clínica médica do HULW entre março e setembro de 2008. Foram registrados em formulário padronizado variáveis demográficas, clínicas e laboratoriais.
Resultados: A amostra foi constituída por 140 pacientes, com idade de 18 anos a 89 anos, com média de 47,3 (± 17,3). Através da aplicação do MEEM, verificou-se uma pontuação média de 21,8 ± 5,9 pontos, detectando-se comprometimento cognitivo em 23 pacientes (16,4%). As médias do MEEM foram significativamente maiores em pacientes mais velhos (p = 0,02). As pontuações do MEEM também se relacionaram com a escolaridade dos pacientes, com pior desempenho entre os pacientes sem instrução e com escolaridade básica (p = 0,001). Imobilização no leito (p = 0,0001), história de déficit cognitivo crônico (p = 0,0001), antecedente psiquiátrico (p= 0,004) e falta de atividade laborativa (p=0,03) associaram-se significativamente com pior desempenho cognitivo. Os escores médios do MEEM foram significativamente inferiores nos pacientes que evoluíram posteriormente com morte hospitalar que naqueles que receberam alta com melhora da doença de base (p = 0,0001).
Discussão: A prevalência de comprometimento cognitivo observado na amostra de pacientes adultos de todas as idades foi compatível com outros trabalhos realizados no Brasil envolvendo pacientes idosos. Portanto, a prevalência foi elevada considerando a amostra estudada. A associação entre comprometimento cognitivo e mortalidade indica que pacientes com este tipo de déficit hospitalizados em clínica médica devem ser considerados de maior risco para desfechos desfavoráveis. Atividade laboral, história de depressão, internação psiquiátrica e ocorrência de imobilização no leito à admissão do paciente nas enfermarias relacionam-se com pior desempenho cognitivo e, este deve ser considerado, portanto, como fator de maior morbidade; A idade e, sobretudo, a escolaridade tiveram forte influência na pontuação do MEEM, isto é, quanto maior a idade e menor a escolaridade, menores os escores neste teste cognitivo, refletindo um pior desempenho cognitivo.
Conclusões: Conclui-se que um número significativo de pacientes atendidos no âmbito da clínica médica do HULW, sem queixas neurológicas, apresenta sinais objetivos de disfunção cognitiva leve, o que reforça a necessidade de incluir um teste de avaliação cognitiva breve como rotina na semiologia destes pacientes. Com esse estudo, foi possível verificar, portanto, que é elevada a prevalência de comprometimento cognitivo leve e verificar quais são os fatores associados entre os pacientes atendidos no serviço, sobretudo levando-se em consideração que se trata de um hospital de ensino, com residência médica, as hospitalizações são geralmente eletivas demandando maior tempo para assistência e os pacientes atendidos são predominantemente de meia-idade ou idosos e portadores de doenças crônico-degenerativas. Palavras-chave: Avaliação cognitiva. Mini Exame do Estado Mental. Clínica médica. Hospitalização.
Crédito da foto: Imagem extraída de http://www.geriatricsandaging.ca