19 de fevereiro de 2009

Breve Revisão Etiológica sobre Amaurose

Por Charles Saraiva Gadelha
Estudante do quarto período do Curso de Medicina / Centro de Ciências Médicas / Universidade Federal da Paraíba 


O termo amaurose refere-se à cegueira, especialmente à perda da visão não relacionada a um erro de refração ou outra afecção do próprio olho. A amaurose fugaz é um ataque isquêmico transitório da retina, resultando em perda da visão monocular transitória; geralmente devido a embolismo das artérias da retina. A perda da visão poderá desenvolver-se de forma súbita (em 12 horas), rápida (até 2-3 dias), lenta (superior a 3 dias) ou progressiva (em meses ou anos). 

Classificação da amaurose quanto ao modo de evolução: 
- Aguda e dolorosa: úlcera de córnea; uveíte; glaucoma agudo; endoftalmia. 
- Aguda e indolor: hemorragia vítrea; deslocamento de retina; oclusão arterial ou venosa da retina; degeneração macular exsudativa; neurite óptica; infarto cerebral; funcional. 
- Crônica: erros de refração; catarata; glaucoma de ângulo aberto; degeneração macular atrófica; tumor cerebral. 
- Monocular e transitória: tromboembolismo (aterosclerose, êmbolos cardíacos); vasoespasmo (enxaqueca, crise hipertensiva); vasculites (arterite temporal). 

Causas não-neurológicas de amaurose 
· Córnea: trauma, infecção, hipercalcemia 
· Câmara anterior: glaucoma 
· Cristalino: catarata, subluxação do cristalino. 
· Humor vítreo: hemorragia, amiloidose 
· Íris/corpo ciliar: uveíte por citomegalovírus, toxoplasmose, linfoma.

Causas neurológicas de amaurose
a) Lesões da retina 

· Lesão isquêmica da retina: oclusão de artéria central da retina; oclusão de veia central da retina 
· Deslocamento de retina 
· Degeneração macular 
· Infecção (AIDS, toxoplasmose, sífilis) 
· Retinopatia diabética.
Aspectos do diagnóstico diferencial das perdas de visão por lesões da retina
- A oclusão da artéria central da retina (ou seus ramos) causa perda súbita da visão devido à oclusão por êmbolos ou trombos (pode estar associada a doença da carótida ou doença vascular cardíaca); a oclusão das arteríolas pré-capilares associa-se, por exemplo, a retinopatia diabética, retinopatia hipertensiva, leucemia e AIDS. 
- A oclusão da veia central da retina geralmente é unilateral, frequentemente idiopática, mas hipertensão, diabetes e glaucoma são fatores de risco proeminentes; policitemia, trombocitopenia e outros estados de hipercoagulabilidade devem ser corrigidos. 
- O deslocamento de retina geralmente ocorre em indivíduos com miopia ou após cirurgia ou trauma no olho; o início pode ser precedido por sintomas como flashes ou fotopsias. 
- A degeneração macular relacionada à idade ocorre em idosos (acima de 60 anos), e está associada com metamorfopsias; a fase exsudativa, que corresponde a 10% dos pacientes, causa complicações responsáveis por 90% dos casos de perda de visão grave.
b) Lesão do nervo óptico
· Desmielinização (neurite óptica): esclerose múltipla; neurorretinite viral e pós-infecciosa. 
· Isquemia: arteriosclerótica; arterite temporal; arterite sifilítica; para-infecciosa; trombose de seio cavernoso; infecção dos seios paranasais 
· Drogas e toxinas: metanol, etambutol, cloroquina, estreptomicina, cloranfenicol, clorpropamida. 
· Carenciais: deficiência de vitamina B12; deficiência de tiamina (“ambliopia tabaco-álcool”); tipos nutricionais epidêmicos 
· Doenças hereditárias e do desenvolvimento: atrofia óptica juvenil dominante; atrofia óptica de Leber; falha no desenvolvimento do disco óptico; lesões compressivas e infiltrativas; metástases no nervo óptico; glioma de nervo óptico; tumor de hipófise; oftalmopatia da tireóide; sarcoidose; linfoma; granulomatose de Wegener 
· Outras: lesão do nervo óptico induzida por radiação; papiledema.
Aspectos do diagnóstico diferencial da amaurose por lesão do nervo óptico 
- A neurite óptica causa prejuízo agudo da visão unilateral ou bilateral (simultâneo ou não), e dor aos movimentos oculares pode estar presente; a causa mais comum de neurite unilateral é esclerose múltipla (aproximadamente metade dos pacientes desenvolverá outros sintomas de esclerose múltipla em 5 anos); em geral acomete adultos jovens, tipicamente inicia com escotoma central e tem progressão subaguda, ocorrendo, em geral, uma remissão espontânea em duas a oito semanas, mas com alto índice de recidiva. 
- A neuropatia óptica isquêmica anterior ocorre em pessoas acima de 50 anos, sendo a causa mais comum de perda de visão monocular persistente; tem início abrupto e indolor e o outro olho é acometido em aproximadamente um terço dos pacientes, sobretudo naqueles com hipertensão e diabete melito; a forma mais comum é a não-arterítica (angioesclerótica). 
- As neuropatias ópticas tóxicas e nutricionais evoluem com perda da visão simultânea, bilateral e lenta com escotomas centrais é causada geralmente por causas tóxicas ou nutricionais; neste último caso, com tratamento precoce, as alterações visuais são reversíveis. - As neuropatias ópticas hereditárias são geralmente bilaterais. - Outras causas de neuropatia do nervo óptico cursam com papiledema de longa duração de qualquer causa pode levar a atrofia do nervo óptico e cegueira.
c) Lesão quiasma e pós-quiasma 
· Lesão do quiasma óptico 
· Lesões do trato óptico
· Lesões das radiações ópticas 
· Lesões do córtex cerebral
Aspectos do diagnóstico diferencial de amaurose por lesão quiasmática:
- Quiasma óptico: a causa mais comum é o adenoma de hipófise. 
- Pós-quiasma: as lesões vasculares no território da artéria cerebral posterior são responsáveis por 90% das hemianopsias homônimas isoladas; outras causas são enxaqueca, trauma e tumores primários ou metastáticos.

Referências
ROSA, A. A. A.; SOARES, J. L. M.; BARROS, E. Sintomas e sinais na prática clínica: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed, 2006. 
MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. São Paulo: Atheneu, 2006. 

Imagem: a foto desta postagem foi extraída de http://flickr.com/photos/22221054@N00/14870159