24 de abril de 2009

Estudantes Extensionistas avaliam o Projeto Continuum

Projeto Continuum de Extensão (PROBEX/UFPB) em 2008

O Projeto de Extensão Continuum (PROBEX/UFPB) resultou da busca para superar a ausência de um programa de continuidade de assistência clínica ao paciente portador de doença crônica egresso da internação nas enfermarias de clínica médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW). Esses pacientes necessitam de continuidade dos cuidados clínicos após a hospitalização, o que constitui um aspecto geralmente negligenciado na prática hospitalar de muitas instituições.

Nesse sentido, em virtude da elevada prevalência de doenças crônicas nas enfermarias de clínica médica, sobretudo hipertensão arterial, diabetes mellitus e doença renal crônica, e do alto índice de novas internações dos pacientes afetados, a principal meta do Projeto foi a redução da morbimortalidade dos pacientes afetados. Evidentemente esta meta só poderá ser conseguida em longo prazo. Em curto prazo, o alvo desse trabalho é a melhora do atendimento e a obtenção de um adequado controle clínico desses pacientes e, em médio prazo, a redução da incidência de reinternações e de complicações da enfermidade crônica.

As principais ações deste Projeto consistem no desenvolvimento de processos assistenciais e metodologias de trabalho que permitam reavaliar periodicamente os pacientes egressos de internações clínicas do HULW, visando à redução de novas internações, assim como à adequação do seu controle terapêutico. Paralelamente, executa-se um processo educativo sobre o manejo domiciliar cotidiano das doenças crônicas (sobretudo hipertensão, diabetes mellitus e doença renal crônica), de forma integrada ao atendimento ambulatorial, por meio de orientações sistemáticas aos pacientes pelos estudantes extensionistas.

Ao final da vigência da primeira fase, os sete estudantes extensionistas que participaram desta primeira edição do Projeto preencheram um questionário elaborado para coleta de dados sobre o funcionamento e cumprimento dos objetivos e metas durante a sua execução entre junho e dezembro de 2008, assim como responderam a questões auto-avaliativas.

Os resultados da avaliação pelos estudantes extensionistas encontram-se nas tabelas 1 e 2. A tabela 1 mostra os dados da auto-avaliação dos estudantes. A tabela 2 demonstra a avaliação que os estudantes fizeram do projeto ao final da sua primeira edição.

Tabela 1- Auto-avaliação dos estudantes extensionistas na primeira fase do Projeto Continuum(n=7)

Tabela 2- Avaliação da execução do Projeto Continuum pelos estudantes extensionistas na primeira fase (n=7)

Observando a tabela 1, evidencia-se que a grande maioria dos estudantes considerou que não possuía a formação necessária (clínica) para o acompanhamento das atividades do projeto. Isso deve ter decorrido do fato de que apenas dois dos extensionistas cursavam fases mais avançadas da graduação, mas o pré-requisito para ingressar no Projeto nesta primeira fase foi ter cumprido o quarto período de Medicina (Semiologia Médica).

Contudo, de modo geral, a maioria avaliou positivamente sua participação quanto ao cumprimento de suas funções no trabalho e a contribuição do projeto no seu desenvolvimento, indicando o esforço para acompanhar o andamento do trabalho. Este aspecto, entretanto, deve ser revisto na próxima seleção do Projeto, estipulando-se um momento mais adiantado na graduação como requisito para ingresso.

Esses resultados indicam que essa auto-avaliação constituiu-se numa autocrítica pelos estudantes quanto ao seu próprio desempenho, centrando-se numa reflexão em que constou a contextualização do Projeto, às suas condições de produção e de seu desenvolvimento, assim como da própria condução do projeto nesse processo, devendo servir para diagnosticar o momento analisado e estimular a participação dos extensionistas na condução de novos sentidos para a continuidade do Projeto.

Os resultados da tabela 2 demostram que os estudantes conheciam os objetivos do projeto, tomaram conhecimento do plano de trabalho a cumprir, assim como que os objetivos do projeto foram alcançados. Verificou-se que os estudantes perceberam que os pacientes atendidos foram beneficiados e que o projeto atingiu o público que pretendia. Eles consideraram que o gerenciamento do projeto foi satisfatório.

Por outro lado, os estudantes consideraram que infra-estrutura do atendimento ambulatorial foi inadequada. Este aspecto deve-se à falta de um local próprio para o funcionamento do ambulatório, uma vez que se utilizam duas salas do setor do Ambulatório de Endocrinologia do HULW.

Cerca de metade os estudantes considerou que o projeto teve uma interdisciplinaridade “parcial” em sua execução e que este gerou produtos “parcialmente”. Contudo, havia participação de duas especialistas em diferentes áreas (Nefrologia e Endocrinologia) e de uma assistente social. Pode-se interpretar este achado como a opinião de que houve multidisciplinaridade (embora de poucos profissionais de diferentes áreas), porém não chegou a haver uma troca suficiente de informações e de integração de ações dos diferentes campos.

Em uma atividade de extensão com vistas na atividade interdisciplinar espera-se que esta integração ocorra por parte de todos os envolvidos (professores e alunos), mas não é tão simples como parece, porque há uma certa dificuldade em se trabalhar desta forma, como por exemplo, o não entendimento de uma proposta interdisciplinar parece ser uma das barreiras, já que existem definições teóricas conceituais sobre inter e multidisciplinaridade com variações sutis, mas com relevantes distorções na prática (BATISTA, 2006).

Quanto à geração de produtos, verificou-se que quase 50% dos estudantes não consideraram suficientes os produtos gerados pelo projeto. Publicou-se um artigo e elaboraram-se outros dois a serem submetidos brevemente à publicação. Elaboraram-se também quatro protocolos clínicos de
conduta, entre outros produtos, o que será objeto de outra postagem oportunamente.

O acompanhamento ambulatorial contínuo neste Projeto alcançou seus objetivos em curto prazo, mantendo os pacientes compensados clinicamente por meio de medidas educativas e farmacológicas. A
gora, programam-se as metas a serem atingidas em médio prazo, com a solicitação de renovação do projeto submetida em 22 de abril último.

A dimensão do ensino em relação aos alunos participantes do Projeto Continuum também representou um componente positivo. Nesse processo de compreensão da condição crônica, os alunos extensionistas tiveram oportunidade de reconhecer o diabetes mellitus, a hipertensão arterial e a doença renal crônica como um problema de saúde pública no contexto das doenças crônicas e ampliar sua compreensão da atenção a esses pacientes.

Foi possível verificar que os alunos tiveram a oportunidade de perceber que para cuidar de pessoas com doenças crônicas é necessário mais do que conhecimentos sobre os aspectos biomédicos, destacando-se a importância de compreender como a doença crônica afeta a vida dessas pessoas.

Referências
BATISTA, S. H. S. A interdisciplinaridade no ensino médico. Rev. bras. educ. med. 30 (1): 39-46, 2006.