18 de julho de 2009

O raciocínio clínico

Por Camila de Oliveira Ramalho
Estudante de Graduação em Medicina / UFPB - período 9

O raciocínio clínico é uma função essencial da atividade médica. Quando o médico se defronta com um paciente que apresenta um problema, ele se utiliza de um método cognitivo de resolvê-lo muito semelhante ao método científico hipotético-dedutivo. Há uma rápida geração de hipóteses diagnósticas e em seguida a realização de testes para corroborá-las ou refutá-las até obter uma que tenha forte verossimilhança e que possibilite uma tomada de ação, como, por exemplo, o início de um tratamento. O processo de solução dos problemas clínicos é constituído por dois grandes componentes, sendo o primeiro deles o conteúdo, uma base de conhecimento rica e extensa que reside na memória do médico. E o outro é o método de aplicação do conhecimento utilizado pelo médico na busca de uma solução do problema do paciente. As informações necessárias à decisão sobre qual das hipóteses é correta requer a coleta de outros dados, uma vez que com o surgimento de um problema, sua explicação inicial nem sempre é seguramente evidente e várias hipóteses são levadas em consideração. E tais dados são obtidos através da entrevista, do exame físico e testes laboratoriais realizados pelo médico. Essa abordagem sequencial de testagem de múltiplas hipóteses no processo de solução dos problemas clínicos culmina com o sucesso na resolução do problema do paciente, que é o objetivo principal, ou seja, a obtenção de um diagnóstico correto e de um tratamento efetivo. O processo de solução de um problema clínico começa quando o paciente se apresenta ao médico e inicia a descrição de seus sintomas ou suas preocupações, além disso, a aparência, sexo, idade, postura, expressão facial, linguagem, aflições, circunstância do atendimento, características demográficas do paciente, capacidade de percepção e a especialidade do médico irão constituir o ponto de partida na procura de outras informações que lhe parecem mais importantes na busca de uma solução. Esse é o conceito inicial ou a síntese inicial do problema. A partir de então as hipóteses são formuladas. Frequentemente, os médicos utilizam-se de associações rápidas entre dados (manifestações clínicas) e explicações potenciais (processo fisiopatológico, síndrome ou uma doença específica), baseadas nas suas experiências pregressas com situações similares.
A fase de geração das hipóteses diagnósticas é fortemente dependente da memória e do conhecimento dos médicos. A experiência clínica aumenta a qualidade das hipóteses geradas, pois no mundo real, as doenças e as síndromes variam mais em seus atributos constituintes que nas descrições típicas dos livros, no entanto, mesmo o uso brilhante do raciocínio não é capaz de reconhecer uma doença ou uma síndrome desconhecida, ou seja, é necessário ter conhecimento teórico suficiente. À medida que a avaliação ocorre ao longo da entrevista as hipóteses são frequentemente eliminadas e substituídas por novas. O conceito inicial se transforma ao longo da avaliação. Os novos fatos que são acrescentados a ele são continuamente usados para reformular esse conceito que é, então, sucessiva e repetidamente comparado com as hipóteses, suportando-as, refutando-as ou substituindo-as. Deve-se atentar para o fato de que o conceito é confrontado com a hipótese, e não forçado a se encaixar nela. Inicia-se agora um processo de avaliação (ou testagem) das hipóteses, onde o clínico tem que decidir quais informações adicionais são necessárias a partir da história clínica, do exame físico e do laboratório, para então tomar uma decisão diagnóstica. Essa decisão, a escolha da hipótese correta, é o caminho para a seleção do tratamento apropriado para o paciente. Dentro do processo de validação diagnóstica não se deve esquecer de dar ênfase especial ao diagnóstico diferencial, pois a idéia de explorar os temas médicos na forma de diagnósticos diferenciais se torna vital para todos aqueles que lidam com atenção primária à saúde, na tentativa de aumentar a resolutividade de problemas. Referências
REA-NETO, A. Raciocínio clínico: o processo de decisão diagnóstica e terapêutica. Rev. Assoc. Med. Bras., 44 (4), 1998.
PEDROSO, J. L. A importância do raciocínio clínico e do diagnóstico diferencial: uma abordagem em atenção primária para “dor na perna”. 2005. Disponível em: <www.nates.ufjf.br/novo/revista/pdf/v008n2/importancia>. Acesso em: 17 jul 2009. CORREA, C. G. Raciocínio clínico: o desafio do cuidar. [Tese] São Paulo: Escola de enfermagem da USP; 2003.