30 de agosto de 2009

Constipação intestinal funcional

Por Joyce Freire Gonçalves de Melo Estudante de Medicina da UFPB (V Período); Monitora do Módulo de Semiologia Médica
Tomando por base o relato de pacientes a queixa de constipação intestinal figura como a segunda mais frequente (2). É um sintoma mais comum em mulheres e idosos (4). A constipação intestinal é classificada de acordo com sua etiologia em funcional e orgânica1. Esta última é secundária a uma moléstia orgânica, como por exemplo, neoplasia de cólon, distúrbios endorinometábolicos, doenças neurológicas. Sendo, pois, o diagnóstico de constipação intestinal funcional ou essencial reservado aos casos em que os métodos de investigação não tenham detectado nenhum distúrbio orgânico que pudesse desencadear obstipação no paciente (2). O tipo funcional destaca-se por sua maior prevalência em nosso meio (1, 5). Associa-se tal distúrbio a hábitos alimentares irregulares, baixa ingestão de fibras, sedentarismo, perda da eficácia do reflexo de evacuação - ocorre em decorrência da inibição repetida desse reflexo -, além de outros fatores comportamentais e alimentares provenientes da ocidentalização e industrialização (1). A constipação intestinal essencial é definida segundo os critérios do Comitê Internacional Roma II. De acordo com tal documento, para que se faça o diagnóstico de tal distúrbio é necessário que o indivíduo apresente no mínimo por 12 semanas, não necessariamente consecutivas, durante o último ano, dois ou mais dos seguintes sintomas: esforço excessivo para evacuar em mais de 25% das vezes; fezes de consistência endurecida ou sensação de esvaziamento incompleto ou de obstrução em mais de 25% das evacuações; necessidade da realização de manobras manuais a fim de facilitar a evacuação em mais de 25% das defecações e/ou menos de três evacuações por semana. Além disso, afirma que é preciso que também haja ausência de fezes amolecidas e insuficiência de critérios para o diagnóstico de cólon irritável (DROSSMAN et al., 1999 apud CUNHA et al., 2008) (3). Como se pode constatar, o diagnóstico da constipação intestinal funcional é baseado nos sintomas referenciados pelo paciente, sendo, pois, a anamnese o pilar fundamental para a construção do diagnóstico. É importante que conheçamos o modo de instalação e progressão do quadro de constipação, o hábito dietético do paciente, se houve alteração no hábito intestinal, freqüência das evacuações, a consistência das fezes, sensação de esvaziamento incompleto ou obstrução, enfim, todos os fatores que possam estar envolvidos ou venham a corroborar com o diagnóstico de constipação (1, 2, 4).
Outro ponto importante que merece ser investigado é a história familiar do paciente, devendo-se averiguar doenças de caráter hereditário ou familiar que possam desencadear tal sintoma. Ainda nesse contexto, devem ser sempre pesquisados os chamados “sinais de alerta” que apontam para uma etiologia orgânica, dentre os quais se destacam o sangramento por via retal e a ocorrência de dor abdominal ou anal relacionada à evacuação (2). O exame físico deve ser dirigido à exclusão de doenças que possam estar relacionadas à obstipação. Deve-se analisar especialmente o abdome, períneo, reto e ânus. O abdome deve ser inspecionado, a fim de designarmos se a obstrução é total ou localizada, deve-se também pesquisar a presença de cicatrizes, visto que cirurgias prévias podem resultar num quadro obstrutivo; na ausculta, podemos sugerir se há obstrução ou íleo paralítico; à palpação, devem ser pesquisadas a presença de massas, visceromegalias e a sensibilidade dolorosa; por fim, a percussão será útil na diferenciação de uma distensão por gases de uma por líquido ascítico.
No exame do períneo, deverão ser pesquisadas lesões que sejam causa ou conseqüência da constipação. Já no exame do reto, o objetivo é pesquisar a presença de fezes e sua consistência, sendo também investigadas alterações esfincterianas. Também deve ser feito a análise da região anal a fim de identificar possíveis irregularidades (2). Os exames complementares são utilizados também na intenção de exclusão de doença orgânica. Inicialmente, devem ser solicitados exames a fim de excluir endocrinopatias e, em áreas endêmicas, a sorologia para Chagas deve ser solicitada. É recomendado realizar uma colonoscopia ou, ao menos, uma retossigmoidoscopia, em todos os portadores de constipação crônica, a fim de afastar lesão endoluminal (2). Fica evidente, portanto, a importância da história clínica na construção da suspeita diagnóstica de constipação funcional, uma vez que tal distúrbio constitui uma condição clínica definida por seus sintomas. Restando ao exame físico e aos exames complementares o papel de assegurar o diagnóstico, afastando, para isso, possíveis causas orgânicas.
Referências 1. AMBROGINI JÚNIOR O, MISZPUTEN SI. Constipação Intestinal Crônica. Rev Bras Med 2002; 59:133-39. Disponível em http://www.cibersaude.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=1079. Acessado em 26/08/09. 2. MAGALHÃES M. F.; LACERDA-FILHO, A. Constipação Intestinal. In: Castro LP, Coelho LGV. (Org.). Gastroenterologia. Rio de Janeiro: Medsi, 2002, v. 1, p. 159-172. 3. CUNHA, G. H. ; MORAES, M. E. ; OLIVEIRA, J. C. Condutas terapêuticas no manejo da constipação crônica. Revista eletrônica pesquisa médica (UFC. Online), v. 2, p. 11-17, 2008. Disponível em http://www.fisfar.ufc.br/pesmed/index.php/repm/article/view/212/201. Acessado em 26/08/09. 4. DANTAS R. Diarréia e constipação intestinal. Medicina, Ribeirão Preto 2004;37, 262-266. Disponível em: http://www.fmrp.usp.br/revista/2004/vol37n3e4/8diarreia_constipacao_intestinal.pdf. Acesso em 26/08/09. 5. LOPES, Adriana Cruz; VICTORIA, Carlos Roberto. Ingestão de fibra alimentar e tempo de trânsito colônico em pacientes com constipação funcional. Arq. Gastroenterol. [online]. 2008, vol.45, n.1, pp. 58-63. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-28032008000100011&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em 26/08/09.

Crédito da imagem: a figura que ilustra esta postagem foi extraída de: http://www.sunchlorella.com.br/newsletter/junho/images/junho07/intestino_01.jpg