3 de agosto de 2009

Semiologia Psiquiátrica

Por Fernando Roberto Gondim Cabral de Vasconcelos Estudante de Graduação em Medicina da UFPB (V Período), Monitor de Semiologia Médica
A semiologia psiquiátrica merece um capítulo especial dentro da semiologia médica em virtude de suas particularidades. O exame psiquiátrico envolve a entrevista psiquiátrica (inclui anamnese e exame psíquico) e também o exame físico. A entrevista psiquiátrica inicial é o primeiro encontro que o paciente tem com seu médico, no entanto, esta entrevista é comumente a mais recente de uma série de encontros com outros profissionais de saúde. Vale salientar que a entrevista psiquiátrica é um momento ímpar para a psiquiatria. O paciente decidido a procurar um psiquiatra nos indica que sua infelicidade ou angústia superam o preconceito de ser estigmatizado por paciente “psiquiátrico”, na maioria das vezes. É importante também frisar que a descrição dos sentimentos mais íntimos (seus e de seus familiares) precisa, frequentemente, ser dita a um “estranho”; portanto, os sentimentos de vergonha e humilhação provavelmente acontecerão. É imprescindível para a relação terapêutica que o médico compreenda e aceite os temores iniciais que o paciente traz para a primeira entrevista. Faz-se necessário, também, que o médico evite qualquer atitude que pareça de aprovação ou reprovação. Ele deve compreender o paciente e não julgá-lo. Faz-se importante enfocar a necessidade de conhecimentos psicológicos pelo médico. Muitas enfermidades aparentemente somáticas têm como fator etiológico fundamental transtornos emocionais, e todo paciente somático, no modo de viver sua doença e lutar contra ela, emprega recursos que sua personalidade e seu modo particular de reagir lhe permitem. A medicina psicossomática deixa de ser uma especialidade ou um grupo de doenças para converter-se em um fundo, um colorido de toda a medicina contemporânea. A anamnese psiquiátrica possui os mesmos elementos de toda história clínica. Os dados desta são obtidos de duas fontes, do próprio paciente ou de seus acompanhantes. É frequente a vinda de acompanhantes à consulta psiquiátrica. Quando isto ocorre, deve-se ouvir o paciente em primeiro lugar, para depois, sempre em sua presença, ouvir seu acompanhante. É importante estar atento, pois os pais podem ter dificuldade em ver distúrbios de conduta nos filhos e inveja e competição entre irmãos. O exame psíquico consiste na avaliação do estado mental do paciente no momento da entrevista. Consiste em uma das etapas mais importantes. Esta observação é feita mediante observação cuidadosa do comportamento, tais como: relação com o entrevistador, consciência, atenção, orientação, pensamento, memória, afetividade, sensopercepção, vontade, psicomotricidade e inteligência. A sensopercepção é a capacidade de uma pessoa apreender as impressões sensoriais, dando-lhes um significado. Esta apreensão depende do tipo de estímulo, da higidez dos órgãos sensoriais e da integridade do sistema nervoso central, sendo também influenciada por várias funções psíquicas como a vontade, a afetividade e a inteligência. Os principais transtornos da sensopercepção são as alucinações e as ilusões. Ilusões são percepções deformadas; aos aspectos reais de um objeto percebido, acrescentam-se outros imaginários. Alucinações são a “percepção” sem objeto, ou seja, ouvir vozes que ninguém em volta está ouvindo ou ver objetos que não estão presentes. A vida psíquica do paciente tem a sua expressão objetiva no conjunto no conjunto de seus gestos e movimentos, a que de denomina psicomotricidade. Os distúrbios da psicomotricidade possuem grande valor semiológico em psiquiatria. Muitas vezes fornecem pistas seguras em direção a uma determinada afecção psiquiátrica. A importância da mímica vem sendo enfatizada ao longo da descrição do exame psíquico. O médico deve evitar fazer anotações durante a entrevista, limitando-se, quando as fizer, a dados essenciais (nomes, datas). Já a descrição do exame psíquico deve ser feita da maneira mais minuciosa possível, procurando fornecer uma imagem viva do paciente. A precisão no uso de termos para descrever sinais e sintomas é essencial também para a psiquiatria. O exame físico da semiologia psiquiátrica é realizado com o intuito de identificar sintomas psicossomáticos e excluir causas orgânicas para a afecção do paciente. A perda da capacidade de palpação, percussão e auscultação pelo psiquiatra pode ser justificada, mas não a perda da sua capacidade de observação. Assim como a apreensão de dados psicológicos não-verbais, a percepção de indícios de doença somática, dos mais claros aos mais sutis, é parte fundamental de sua função. Por fim, para exemplificar a complexidade da semiologia psiquiátrica (como na Semiologia Médica em geral), costuma-se dizer que estão “presentes” pelo menos quatro pessoas na consulta: o médico, o paciente, o médico que o paciente imagina e o paciente que o médico imagina!
Referências PORTO, C. C. Semiologia Médica. 5º Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. PORTO, C. C. Exame Clínico Bases para prática médica. 6º Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. A foto desta postagem foi retirada da seguinte página-web: “http://www.jota7.com/empresarial-j7/1775/psiquiatras_alertam_populacao_sobre_tensao_da_crise_financeira.html” Acessado em no dia 24/07/09, as 14h10minh.