16 de outubro de 2009

Transtorno de personalidade esquizóide

Por Natália Andrade Costa
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB; Bolsista PROBEX/UFPB.
O conceito de personalidade envolve as características que individualizam uma pessoa, presentes desde a infância e adolescência, permanecendo quase imutáveis ao longo da vida. É composta do caráter, que reúne os aspectos cognitivos do indivíduo, e do temperamento, reunião dos aspectos afetivos cognitivos (PETERS,1984, apud LOUZÃ NETO, 2007). Os transtornos de personalidade não são propriamente doenças, mas anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo considerados, em psiquiatria forense, como perturbação da saúde mental. É importante distinguir alterações de personalidade do transtorno de personalidade, pois traços de personalidade alterada podem ser registrados sem preencher os critérios para o diagnóstico de transtorno de personalidade. Esse tipo de transtorno envolve a desarmonia da afetividade com integração deficitária dos impulsos, das atitudes e das condutas, manifestando-se principalmente no relacionamento interpessoal. Como afirmam Morana et al. (2002), os indivíduos portadores de transtorno de personalidade podem ser vistos pelos leigos como pessoas muito problemáticas e de difícil relacionamento interpessoal.
O transtorno de personalidade é definido como um padrão persistente de experiência íntima ou comportamento, que se diverge acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, podendo manifestar-se nas áreas da cognição, afetividade, relações interpessoais e controle dos impulsos. No longo da década de 1940, começaram a aparecer relatos sobre certos pacientes que não eram suficientemente doentes para serem rotulados de esquizofrênicos, mas que eram muito perturbados (GABBARD, 1998). Esses pacientes apresentavam um transtorno que se caracterizava por ser estável e de longa duração, tendo início na adolescência e sem representar consequência de outra condição mental, doença orgânica ou uso de substâncias psicoativas (KAPLAN et al., 1997). Denominou-se este quadro de transtorno de personalidade esquizóide.
O transtorno de personalidade esquizóide distingue-se da esquizofrenia porque não há perda do senso de realidade. A pessoa esquizóide apresenta pensamentos aparentemente autistas e uma nítida inabilidade para expressar agressividade e por não se perturbarem diante de experiências emocionalmente intensas. Os indivíduos com esse transtorno parecem frios emocionalmente e apresentam ausência de envolvimento com eventos cotidianos e de preocupações com os outros. Parecem quietos, distantes e não sociáveis. Predomina o desapego, desinteresse pelo contato social, retraimento afetivo, dificuldade em experimentar prazer e tendência à introspecção. Podem prosseguir ao longo ao longo da vida com vontade ou necessidade mínima de terem vínculos emocionais. Raramente eles vivenciam experiências emocionais intensas e a expressão da raiva ou alegria é quase nula.

O grande problema é que é um mundo subjetivo fechado à realidade; por essa razão, a pessoa só pode processar como experiência os filetes precários de contato com o mundo que escapam à filtragem do falso self. Por isso, o seu desenvolvimento fica, em larga escala, bloqueado e congelado no tempo (NAFFAH NETO, 2007)

Existem critérios para o diagnóstico do transtorno da personalidade esquizóide como não desejar nem gostar de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família, não ter amigos íntimos ou confidentes outros que não sejam parentes de primeiro grau, além de se mostrar indiferente aos elogios e críticas dos outros. Alguns estudos mostram a importância da herança genética na determinação da doença, evidenciando a maior prevalência do transtorno entre gêmeos monozigóticos do que entre os dizigóticos. Além disso, observa-se a presença marcante de pais biológicos anti-sociais, na vida desses pacientes. Há também indícios de alterações na função de alguns sistemas de neurotransmissão como o da serotonina. Assim, fatores biológicos, genéticos e ambientais estariam envolvidos na gênese do quadro. Referências KAPLAN, H.; SADOCK, B.; GRELB, J. Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 7a. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
LOUZÃ NETO; R. M. Psiquiatria Básica. 2a. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 346-352. MORANA, H. C. P.; STONE, M. H.; ABDALLA-FILHO, E. Transtornos de personalidade, psicopatia e serial killers. Rev. Bras. Psiquiatr. 28, (2): s74-s79, 2002. NAFFAH NETO, A. The problem of false self in borderline patients: revisiting Winnicott. Rev. bras. psicanál, 41 (4): 77-88, 2007.
Fonte da imagem: www.alcione.cl/nuevo/index.php?object_id=313