19 de outubro de 2010

O Princípio da Parcimônia

Por Priscilla Duarte Ferreira
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
"It is vain to do with more what can be done with fewer" (1)
(William of Occam)
Resumo

O Princípio da Parcimônia é um elemento basilar da metodologia científica que pressupõe a simplicidade, o uso de premissas ou hipóteses estritamente necessárias para a explicação de um fenômeno ou teoria. Dessa eliminação de conceitos supérfluos, resultam diretrizes operacionais que não só simplificam o processo de estruturação do conhecimento científico, permitindo obter conclusões pertinentes, como também aperfeiçoamento do método de diagnóstico na prática clínica.

Palavras-chave: Metodologia. Metafísica. Hipótese.
O Princípio da Parcimônia, “Occam’s razor” ou “Princípio da Economia”, é atribuído ao filósofo e teólogo medieval britânico William of Ockham (1285-1349), ou Guilherme de Occam. Pode ser considerado um princípio ontológico (metafísico) ou um princípio metodológico. Nesta última categoria, refere-se ao fato de que qualquer explicação deve ter o menor número possível de premissas para explicar o fenômeno em análise. Em termos mais diretos, é o princípio que afirma ser a explicação mais simples para um conjunto de dados a que deve ser escolhida.
O princípio da parcimônia, em latim Lex Parsimoniae, é uma máxima que valoriza a simplicidade na construção das teorias. Sua formulação mais comum é "Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" ("As entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade").

Mesmo sendo frequentemente atribuído a Guilherme de Ockham, não é, de fato, uma descoberta deste filósofo, tendo sido mencionado na Antiguidade por Aristóteles. Devido ao fato de estar explicitamente associado ao nominalismo (corrente liderada por Occam), o princípio da parcimônia foi atribuído a ele, passando a ser denominado “Princípio de Ockham”. Também pode ser designado como “Navalha de Ockham” em virtude da defesa do minimalismo na metodologia científica. É uma regra de diligência teórica para evitar a postulação desnecessária de certas explicações complexas (LEITE JUNIOR, 2006).
Dessa maneira, a navalha, ou lâmina, "apara os excessos" da pesquisa, constituindo-se assim um dos pilares do reducionismo científico. A eliminação de todos os pontos desnecessários em uma argumentação ou explicação não deveria ser a causa de uma teoria carente de argumentos, mas apenas de uma teoria concisa. É preferível aceitar teorias que possuem menos pressupostos, ou seja, mais simples. Essas têm como função compensar anomalias não previstas pelas teorias em sua forma original.
Nesse sentido, uma hipótese não deve ser considerada se não for absolutamente necessária para explicar algum fenômeno (SANTOS, 2008). O princípio da parcimônia prevê que a explicação mais simples, capaz de abranger o maior número de observações ou achados relacionados a um determinado fenômeno, deve ser assumida como a correta, evitando-se a larga probabilidade de erro associada às explicações mais complexas ou múltiplas (COIMBRA; JUNQUEIRA, 2010). Ou seja, se duas hipóteses explicam os dados com igual eficiência, deve prevalecer a mais simples. O princípio da parcimônia encontra-se incorporado a todas as áreas do conhecimento científico atual, sendo especialmente empregado na investigação das causas de fenômenos naturais. A parcimônia constitui-se, por isso mesmo, em um método simples de estimativa estatística das causas do fenômeno em análise. Admitindo-se suas aplicações ao pensamento científico, a utilização do princípio da parcimônia difundiu-se também por todas as especialidades médicas, sendo reconhecido como princípio fundamental firmemente estabelecido na busca do diagnóstico das causas dos sinais e sintomas dos pacientes que buscam tratamento para seus males.
Os médicos, tendo em vista sua aplicação, podem sistematizar a busca e identificar uma única causa que, isoladamente, explique a maior parte possível de todo o conjunto de manifestações clínicas apresentadas pelo paciente. A parcimônia sugere uma única doença como causa de vários sinais e sintomas. Desse modo, o princípio de Occam deve ser aplicado ao construir-se a lista de diagnóstico diferencial visando facilitar a busca da entidade etiológica. Ainda em relação ao uso da parcimônia relacionado a pesquisas, pode-se mencionar a sua influência na qualidade da pesquisa clínica e também na preservação do sujeito nela incluído. Para alcançar os critérios de parcimônia, aspectos como fundamentação científica com dados que justifiquem a pesquisa, hipóteses adequadas, descrição detalhada do projeto levando em conta os materiais, os métodos, a casuística e os resultados esperados - itens que figuram nas resoluções normatizadoras das entidades de ética em pesquisa, - devem ser bem dimensionados, de tal modo que não pequem pelo excesso ou pela falta (CABRAL FILHO, 2004).
Em qualquer projeto de pesquisa médica que envolva seres humanos deve haver uma avaliação cuidadosa dos riscos previsíveis, em comparação com os benefícios previstos ao sujeito ou a outro. Diante da obrigação de atender aos requisitos éticos recomendados, os experimentos devem ser conduzidos com o máximo de cautela, parcimônia em todos os aspectos metodológicos (Ibid). Como exemplo, pode-se citar a determinação de tamanhos menores da amostra nos casos de pesquisas que tenham a possibilidade de trazer malefícios aos participantes.
Há também críticas aos argumentos teóricos do princípio de Occam, como o que afirma que este é improcedente tanto como um princípio universal quanto como uma heurística prática (DOMINGOS, 1999).
Contudo, mediante toda complexidade inerente à pesquisa científica, a parcimônia é um critério de demarcação que se pode tomar como base para a conduta metodológica e técnica. Como mencionado antes, trata-se de um pricípio também aplicado amplamente na prática clínica. Mas é um princípio a ser usado com a devida "parcimônia".
Referências DOMINGOS, P. The Role of Occam’s Razor in Knowledge Discovery. Data Mining and Knowledge Discovery 3: 409–425, 1999. LEITE JUNIOR, P. O nominalismo de Guilherme de Ockham: Ontologia e Semântica. XV Colóquio de Filosofia: Conhecimento e Filosofia Prática. Universidade Federal de Mato Grosso, Novembro de 2006. Disponível em: http://www.pedroleite.pro.br/filosofia%20medieval/Artigos%20-%20Pedro/Ontologia%20e%20Sem%C3%A2ntica%20em%20Ockham.doc. Acesso em: 20 set. 2010. SANTOS, C. M. D. (Ed.). Sobre a parcimônia nas ciências. Disponível em http://charlesmorphy.blogspot.com/2008/10/sobre-parcimnia-nas-cincias-parte-i.html. Acesso em: 20 set. 2010. CABRAL FILHO, J. E. (Ed.). A interrelação dos princípios metodológicos e dos princípios éticos na investigação e na publicação científica. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. Recife, 4 (3): 225-228, 2004.
COIMBRA, C G.; JUNQUEIRA, V. B. C. Sofrimento emocional e consumo excessivo de carne vermelha como desencadeantes da doença de Parkinson. Departamento de Neurologia e Neurocirurgia - Universidade Federal de São Paulo. 2010. Disponível em: http://www.unifesp.br/dneuro/nexp/riboflavina/i.htmia-nas-cincias-parte-i.html. Acesso em: 20 set. 2010.
Fonte da imagem: http://www.takeourword.com (1) "É improfícuo fazer-se com mais o que pode ser feito com menos"