3 de novembro de 2010

II Seminário de MCO3 em 2010.2: Antissepsia das Mãos por Profissionais de Centro Cirúrgico

Tema do II Seminário de MCO3 em 2010.2:
Projeto de Pesquisa: Emprego de técnicas de antissepsia de mãos entre profissionais de saúde em centro cirúrgico
Autores do Projeto:Luiz Ferreira, Jessé, Ícaro e Tiago
Debatedores:18 alunos da Turma 1 de MCO3
Moderação:Profa. Rilva


RELATÓRIO DO SEMINÁRIO

Introdução

No seminário de hoje no Módulo de Elaboração de Trabalho Científico (MCO3) realizou-se a apresentação e discussão de um projeto de pesquisa elaborado pelos alunos Luiz Ferreira, Jessé, Ícaro e Tiago. No projeto apresentado e discutido, abordou-se o tema do emprego de práticas padronizadas de antissepsia pelos profissionais do Centro Cirúrgico do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).


Infecções da ferida cirúrgica são uma importante fonte de complicações pós-operatórias, sendo responsável por cerca de um quarto de todas as infecções hospitalares (WHO/OMS, 2009). A adesão às recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Centros de Controle de Doenças reduzem a incidência de infecção em pacientes cirúrgicos (NICHOLS, 2001).

Na 55ª Assembléia Mundial da Saúde, ocorrida em maio de 2002, recomendou-se à própria Organização Mundial da Saúde (OMS) o lançamento de uma Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, que ocorreu em outubro de 2004.

Essa Aliança teve o objetivo de despertar a consciência profissional e o comprometimento político para uma melhor segurança na assistência à saúde e apoiar os Estados Membros no desenvolvimento de políticas públicas na indução de boas práticas assistenciais.


O chamado "Segundo Desafio Global para a Segurança do Paciente", conforme o referido documento, dirige a atenção para os fundamentos e práticas da segurança cirúrgica, que são, inquestionavelmente, componentes essenciais da assistência à saúde.

De acordo com essa perpectiva, não há somente uma única solução que promoverá a melhora da segurança cirúrgica. Requere-se a conclusão de uma sequência de etapas necessárias na assistência, não apenas pelo cirurgião, mas também pela equipe de profissionais de assistência à saúde, trabalhando
juntos em um sistema de saúde que os apóie para benefício do paciente.



Apresentação do Projeto de Pesquisa

O título do projeto é “Avaliação das Técnicas de Antissepsia das Mãos entre Profissionais da Área de Saúde em Centro Cirúrgico”. A duração da exposição do projeto foi de 16 minutos.

A Introdução do projeto foi exposta por Luiz Ferreira. Inicialmente, ele mostrou a importância da prevenção de infecções do sítio operatório e o papel das mãos dos membros da equipe de saúde na ocorrência daquelas.

Definiram-se os termos relacionados ao tema de pesquisa, como paramentação, degermação e antissepsia. Mencionaram-se as principais soluções degermantes empregadas atualmente, tais como o povidine e a ciclohexidina.

Após apresentação do tema e definição dos principais conceitos relacionados, Luiz apresentou a justificativa do projeto, mencionando os avanços atuais das técnicas de desgermação e a padronização dos procedimentos de antissepsia, comentando a melhor técnica e a importância da aplicação correta desta técnica pelos profissionais que atuam em centros cirúrgicos.

Luiz descreveu a técnica padronizada de antissepsia pré-operatória das mãos por cirurgiões e demais membros da equipe cirúrgica, conforme preconiza a comunidade científica, embora não tenha citado a fonte da referida padronização.

Luiz explanou ainda os resultados esperados com a realização do projeto, como a promoção de uma discussão sobre o tema e os subsídios que trará para a prática educativa dos profissionais de saúde que trabalham no centro cirúrgico do hospital universitário.

Para finalizar a seção de Introdução do projeto, apresentaram-se os seus objetivos. O objetivo geral foi “investigar as controvérsias relacionadas à técnica de antissepsia de mãos e antebraços por profissionais de saúde do centro cirúrgico do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW)/UFPB”.

Como objetivos específicos, foram levantados dois itens: “comparar a prática da técnica padronizada de antissepsia pelas diferentes categorias de profissionais do centro cirúrgico”, “contribuir em prol da degermação” e “enumerar as consequências desta na evolução dos pacientes” (grifo nosso).

Em relação aos objetivos apresentados acima, foram feitos comentários e sugestões para sua reformulação durante a discussão posterior à apresentação do projeto.

Após a Introdução, Jessé apresentou a seção de Métodos do projeto. A abordagem metodológica foi quanti-qualitativa, através de uma pesquisa envolvendo médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam no centro cirúrgico do HULW, com mais de um ano de contrato com o serviço. Toda a população destes profissionais do setor será envolvida na pesquisa.

Os critérios de exclusão apresentados foram: médicos residentes e estagiários e profissionais contratados há menos de um ano. Em caso de recusa de participação, deveria haver, no mínimo, 10 sujeitos em cada categoria profissional no estudo.

O instrumento de coleta de dados será um questionário semi-estruturado aplicado por três estudantes de graduação em medicina da UFPB. Os dados coletados através do questionário, e a técnica utiliza será a do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) para o processamento e análise (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2006). Esta é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, a serem obtidos dos depoimentos.

Foi apresentado um cronograma para um ano e seis meses, com a coleta de dados a ser executada em dois meses.

Como Apêndice, expôs-se o conjunto de oito itens que comporá o questionário, que conterá também o registro de dados sócio-demográficos dos sujeitos.

Discussão do Projeto
Pablo iniciou a discussão questionando se os resultados podem ser generalizados para outros serviços de saúde da cidade de João Pessoa, Paraíba. Tiago respondeu que os resultados só podem ser aplicados à população do HULW, mas cogitou se, por se tratar de um hospital-escola, a validade externa poderia ser maior.

Jessé comentou que outras pesquisas em centros cirúrgicos de serviços universitários podem ser comparadas aos resultados do presente projeto, corroborando ou não os dados neste encontrados. Como moderadora confirmei que a validade externa do trabalho seria limitada, e os resultados poderiam ser estendidos apenas ao serviço onde será realizada a pesquisa.

Salientei a possibilidade de que os médicos e enfermeiros que atuam em um serviço universitário podem se comportar de modo diverso neste em relação ao seu comportamento usual em outros serviços não-universitários.

Esse fenômeno é chamado de "Efeito Hawthorne", que descreve uma mudança provisória no comportamento ou no desempenho dos sujeitos de uma pesquisa em resposta a uma mudança nas condições ambientais, havendo uma resposta tipicamente melhorada.
No presente projeto de pesquisa, o Efeito Hawthorne poderia ocorrer pelo fato de que, em um serviço onde há médicos residentes e estudantes de Medicina e de outras áreas da saúde, os profissionais podem se sentir observados e desempenhar melhor a técnica de antissepsia, ou seja, os resultados obtidos poderiam ser superiores aos observados em outros hospitais (SANTOS; VICTORA, 2004).

Contudo, agora reconsidero esta resposta pois percebo que há um aspecto importante a ser levado em conta nesse caso: a pesquisa terá abordagem quanti-qualitativa. Não acostumada a este tipo de abordagem metodológica, racionalizei de imediato apenas em termos de um estudo quantitativo.

É necessário considerar que na generalização de resultados da pesquisa qualitativa , há que fazer menção a quatro dimensões. Mayring (2002) apud Günther (2006) introduz o conceito da generalização argumentativa. À medida que os achados na pesquisa qualitativa se apoiem em estudo de caso, estes dependem de uma argumentação explícita apontando quais generalizações seriam factíveis para circunstâncias específicas.

No caso da pesquisa quantitativa, uma amostra representativa asseguraria a possibilidade de uma generalização dos resultados. Relaciona-se a isto a ênfase no processo indutivo, partindo de elementos individuais para chegar a hipóteses e generalizações. Não se exclui a quantificação, mas a função importante da abordagem qualitativa é a de permitir uma quantificação com propósito. Desta maneira, poderia se chegar a generalizações mais consubstanciadas (GÜNTHER, 2006).

O ponto fraco dos métodos qualitativos refere-se aos problemas da representatividade e possibilidade de generalização dos conteúdos que emergem durante a pesquisa. Os métodos quantitativos, por suas possibilidades de réplica, pelo fato de adotarem procedimentos intersubjetivamente controláveis e por seu rigor de indicar as margens de erro que podem ocorrer na formulação da inferência, são aptos a dar sólidos fundamentos às descobertas e às hipóteses formuladas (SERAPIONI, 2000).

Entretanto, outros cientistas sociais discordam destas argumentações. Castro e Bronfman (1997), apud Sarapioni (2000), sustentam que existem diversas estratégias válidas de generalização dos métodos qualitativos. Entre elas, cabe destacar a que os autores definem generalização conceitual ou analítica, que permite aos métodos qualitativos generalizar sobre as características conceituais, sem pretender generalizar em termos numéricos.

Juliete questionou o que a literatura tem demonstrado em relação à importância da técnica de antissepsia e se há trabalhos semelhantes ao apresentado no projeto em discussão. Ícaro respondeu que são poucos os trabalhos encontrados na revisão bibliográfica e estes se referem à relação entre o emprego da técnica correta e a incidência de infecção pós-operatória. Acrescentou que trabalhos com o mesmo problema de pesquisa que eles estão propondo são poucos. Pedi para que ele citasse um deles.

Luiz Henrique pediu para que os colegas autores do projeto explicassem a razão da escolha dos critérios de exclusão da pesquisa. Ícaro respondeu que os médicos residentes seriam excluídos por que não faziam parte do corpo clínico permanente do serviço e ainda são aprendizes, enquanto os médicos com menos de um ano de atuação no setor, também a serem excluídos, podem não ter tido tempo de absorver as regras da instituição e da Comissão de Infecção Hospitalar local.

Dentro deste mesmo tópico, Francieudo perguntou se os autores, como estudantes de medicina do sétimo período, empregariam a técnica padronizada de forma correta. Estendendo o questionamento, Francieudo considerou que estudantes de Medicina deveriam ser incluídos como sujeitos da pesquisa.

Luiz Ferreira explicou que serão o médico, o enfermeiro e o técnico de enfermagem que entrarão em contato direto com o paciente durante o ato operatório, portanto, estes sujeitos deverão ser os profissionais envolvidos no trabalho de investigação.


Nilton interpelou os colegas porque a população mínima a ser envolvida na pesquisa seria de dez sujeitos em cada categoria profissional. Ícaro respondeu que esse número foi determinado de forma arbitrária.

Questionei, então, qual era o tamanho estimado da população-alvo. Jessé respondeu que o número era de cerca de 40 a 50 profissionais, porém lembrou que a pesquisa é de abordagem qualitativa, motivo pelo qual o tamanho da população não seria um fator importante, e que dez sujeitos em cada grupo seria suficiente.

Laryssa perguntou se não caberia na seção de Métodos do trabalho a verificação dos resultados pós-operatórios em relação à incidência de infecções da ferida cirúrgica. Tiago respondeu que este não era um objetivo do estudo porque o problema de pesquisa geral era investigar se os profissionais estariam empregando a técnica de antissepsia corretamente. Como referido anteriormente, há trabalhos na literatura avaliando esta questão.

Contudo, Laryssa teve razão ao fazer esse questionamento porque o último objetivo específico apresentado, “enumerar consequências da degermação inadequada” indica que este objetivo foi levantado, embora com outra conotação, a de incluir a revisão exposta na Introdução (em que é apresentado este aspecto como justificativa para o projeto) como “resultados esperados”. Este aspecto não é objetivo do projeto. Portanto, este último objetivo específico deve ser suprimido.

Luiz Ferreira acrescentou que um dos objetivos específicos da pesquisa era a educação dos sujeitos. Então contestei a escolha deste objetivo apresentado na seção de Introdução (vide tópico “Apresentação do Projeto” desta postagem). “Contribuir em prol da correta aplicação da técnica de degermação” é um objetivo para um projeto de extensão e não de pesquisa.

Gabriela perguntou se os profissionais participantes da pesquisa seriam orientados como realizar a técnica de antissepsia corretamente, caso respondessem de forma equivocada às perguntas do questionário.

Respondi que este não era um objetivo da pesquisa, embora pudesse ser um resultado esperado desta, ao originar implicações práticas em suas conclusões, como por exemplo, a de sugerir a realização de cursos de educação continuada para esses profissionais, ou mesmo, a de indicar a necessidade de realização de projeto de extensão na área tendo estes profissionais como público-alvo.

Andrezza questionou se não deveria ter sido incluído no título o local onde será realizada a pesquisa. Perguntou se a razão para isto foi a de não tornar o título demasiado extenso. Repliquei que sim, o que já havia sido discutido no I seminário do módulo, por ocasião da discussão do projeto anterior.

Andrezza ainda perguntou se haveria problemas metodológicos se ao final dor recrutamento para a pesquisa houvesse número desigual de participantes em cada categoria profissional. Tiago respondeu que dez foi estabelecido como número mínimo e que o recrutamento seria concluído ao se atingir este número em cada classe. Complementei que não seria metodologicamente inapropriado ter um número desigual de participantes em cada categoria, desde que a diferença não fosse excessiva.

Dayse questionou a viabilidade técnica do projeto. Tiago afirmou que a execução do projeto não implicaria em gastos importantes e, portanto, era economicamente viável. Ele complementou a resposta com o argumento de que os profissionais de um hospital de ensino, como o HULW, eram geralmente cooperativos em relação à realização de pesquisas, porém afirmou também que se esperava que alguns cirurgiões poderiam demonstrar resistência em participar.

Jessé complementou que haveria três alunos pesquisadores que, no momento, estão cursando o sétimo período, e a pesquisa poderia ser executada durante seu Internato, que estava próximo, o que facilitaria a abordagem dos sujeitos a serem incluídos na pesquisa.

Natália questionou que fatores contribuiriam para que os profissionais do centro cirúrgico não cumprissem corretamente a técnica de antissepsia conforme a padronização existente. Interpelou ainda se o tempo reduzido seria o principal contribuinte para este fenômeno.

Luiz Ferreira respondeu que, ao se verificar esse resultado ao final da coleta de dados da pesquisa, serão buscados fatores explicativos na interpretação dos dados encontrados. Salientou, porém, que é possível que haja um viés de informação nos resultados, pois não haveria como se certificar que os respondentes afirmem acuradamente a técnica que realmente executam na sua prática. Esta é uma deficiência inerente ao emprego do auto-relato em pesquisas.

Questionei, então, como seria possível saber se o respondente está realmente dizendo a verdade nesse caso? Não apenas muitas pessoas podem não desejar descrever abertamente suas atitudes, mas podem também ser incapazes de fazê-lo acuradamente.

Nesse sentido, embora nas entrevistas e na aplicação de questionários se confiem muito nas descrições verbais, existem grandes diferenças entre os dois métodos. Em um questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se às respostas escritas a questões pré-determinadas. Na entrevista, há maior flexibilidade para obtenção de informações. Além disso, o entrevistador tem oportunidade para observar a pessoa e a situação total a que responde.

Ygor questionou porque seria empregado o modelo transversal e exploratório para a pesquisa. Ícaro respondeu que o delineamento transversal foi escolhido porque o objetivo da pesquisa seria verificar a descrição verbal do respondente em um determinado momento, não havendo necessidade de seguimento do sujeito no tempo.

Jessé completou afirmando quer o estudo dito exploratório é uma investigação preliminar realizada com a finalidade de melhor adequar o instrumento de medida à realidade que se pretende conhecer. Este tipo de pesquisa tem por finalidade o refinamento dos dados da pesquisa e o desenvolvimento e apuro das hipóteses, tornando-as mais consentânea com a realidade.

A pesquisa exploratória contribui, assim, para que se conheça melhor as características da população e, assim, possibilita planejar mais eficientemente o tamanho amostral. Permite também melhor conhecimento da população para definir qual seria a forma de aplicação mais adequada do instrumento, se por auto-aplicação ou por entrevista.

Ygor voltou a questionar o conceito de degermação. Realmente há uma séria de termos nessa área, tais como antissepsia, assepsia, descontaminação, desinfecção, esterilização, entre outros,que acabam por confundir o estudante e até mesmo, muitos profissionais.

Degermação é a remoção de detritos, impurezas, sujeira e microrganismos da flora transitória e alguns da flora residente depositados sobre a pele do paciente ou das mãos da equipe cirúrgica através da ação mecânica de detergente, sabão ou pela utilização de substâncias químicas (APECIH, 2004).

Natália perguntou se não seria mais adequada a realização de um estuo de coorte para a investigação. Ícaro respondeu que o modelo transversal é o mais apropriado. Complementei explicando que, para eventos ou características relativamente estáveis, que não sofrem flutuação importante ao longo de tempo, o emprego de um delineamento transversal é adequado,quando o objetivo é apenas avaliar a variável em um dado momento, de forma seccional.

João Guilherme interrogou quais são as hipóteses de pesquisa. Ícaro replicou que a suposição de pesquisa é de que os enfermeiros e técnicos de enfermagem reportarão mais inadequações na técnica de antissepsia que os médicos. Luiz Ferreira considerou que, por assumir a maior responsabilidade na condução do paciente e sua evolução clínica, terá maior cuidado na realização da técnica de degermação que os demais profissionais. Por outro lado, os enfermeiros teriam maior instrução para antissepsia em sua graduação que os médicos.

Francieudo contestou a fundamentação para esta hipótese, afirmando que os enfermeiros tem a mesma instrução que os médicos e estudam pelos mesmos livros, preocupando-se analogamente com os riscos de infecção cirúrgica. Para Francieudo, muitos cirurgiões não dedicam especial atenção à antissepsia cirúrgica no sentido de evitar a permanência de campos molhados sob o paciente, por exemplo.

Concordei com Francieudo, e ponderei que uma hipótese mais adequada para o projeto de pesquisa apresentado seria a de que os sujeitos entrevistados, de uma maneira geral, realizariam uma técnica inadequada de antissepsia pré-cirúrgica, independente de sua categoria profissional.

Álvaro enalteceu a escolha do tema, reportando-o como relevante do ponto de vista clínico e epidemiológico. Sugeriu um ajuste nos procedimentos da pesquisa para sua melhor operacionalização, como a verificação da escala de plantões dos profissionais a serem incluídos no studo. Essa medida facilitaria a abordagem de todos os sujeitos da pesquisa.

Álvaro afirmou ainda que a realização da técnica de entrevista seria mais apropriada para a coleta de dados dessa pesquisa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e, portanto, uma entrevista não-estruturada poderia permitir uma melhor coleta de dados em profundidade.

Completei a discussão deste aspecto, afirmando que a gravação das entrevistas com transcrição literal dos discursos dos sujeitos aperfeiçoaria a técnica. A maneira mais detalhada é a transcrição literal de uma entrevista gravada com a inclusão de sinais indicando entonações, sotaques, regionalismo e “erros” de fala. Conforme Günther (2006), esta é a transcrição mais completa, mais informativa e, também, a mais cara em termos de tempo e de recursos financeiros. Existe também a transcrição comentada, não necessariamente mutuamente excludente da anterior, na qual se registram explicitamente hesitações na fala além das expressões faciais e corporais que acompanham as verbalizações da pessoa. Registros filmados ajudam, consideravelmente, na preparação deste tipo de transcrição.

Outra forma de transcrição consiste no protocolo resumido, se bem que este já implique num processamento da informação dentro de algum esquema interpretativo já existente. Os protocolos seletivos, apropriados no caso de muito material, não somente supõem um esquema interpretativo subjacente, mas necessitam ainda mais do que as outras formas, de transcrição e de regras explícitas para a seleção do material (GÜNTHER, 2006).

Guilherme perguntou se seriam incluídos os profissionais que realizam pequenas cirurgias também. Tiago respondeu que seriam incluídos na pesquisa os profissionais do centro cirúrgico do HULW, não importando o porte da cirurgia. Luiz Ferreira completou afirmando que as pequenas cirurgias são realizadas no sexto andar e não no primeiro, onde se localiza o centro cirúrgico do hospital, e, portanto, seriam entrevistados os profissionais que lidam com cirurgias maiores no seu cotidiano no serviço.

Felipe manifestou a preocupação de que os médicos cirurgiões possam apresentar uma oposição mais ou menos importante quanto à participação na pesquisa, e assim, retomando a discussão já iniciada em relação a este aspecto no presente debate. Porém, sua pergunta foi sobre a padronização da técnica. Que padronização seria considerada como critério de referência para analisar se os relatos dos sujeitos sobre sua prática seriam ou não corretas.

Em relação a este aspecto, realmente os alunos autores do projeto não apresentaram uma referência de padronização, embora Luiz Ferreira tenha descrito o procedimento passo-a-passo de uma antissepsia pré-operatória correta na exposição da Introdução do projeto. É necessário citar a referência da padronização, se uma comissão do Center of Disease Control (CDC), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ou mesmo a padronização adotada pela Comissão de Infecção Hospitalar do HULW.

A Diretriz de Prevenção da Infecção do Sítio Cirúrgico, por exemplo, elaborada pelo CDC, através da sua Comissão de Infecção Hospitalar, fornece uma padronização baseada em evidências e recomendações para a prevenção da infecção do sítio operatório (CDC, 1999).

Heloísa inquiriu se os resultados seria apresentados de forma separada para cada uma das três categorias profissionais envolvidas na pesquisa, ao que os alunos autores do projeto responderam quase em uníssono que sim.

Mariana indagou se o instrumento de coleta de dados foi validado. Ícaro replicou que não, o instrumento não fora validado, que provocou certo “burburinho” na sala, já que a resposta pareceu indicar que o instrumento não era válido.

Luis Ferreira afirmou, então, que o questionário foi elaborado pelos autores do projeto e não era um instrumento estandardizado, mas sua preparação fora cumprida com base na revisão teórica sobre o assunto. Ponderei que o instrumento elaborado deveria ser submetido a um pré-teste ou estudo-piloto para a verificação de falhas que pudessem ser corrigidas antes do início da pesquisa propriamente dita. Este pré-teste serviria também para a introdução de adaptações necessárias nos procedimentos de coleta de dados.

Francieudo solicitou que os autores do projeto explicassem melhor o que seria a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).


Jessé replicou que esta técnica consiste em selecionar, de cada resposta individual, a uma questão, as Expressões-Chaves, que são trechos mais significativos destas respostas. A essas Expressões-Chaves correspondem Idéias Centrais que são a síntese do conteúdo discursivo manifestado nas Expressões Chave. Com o material das Expressões Chave das Idéias Centrais constroem-se discursos-síntese, na primeira pessoa do singular, que são os DSCs, onde o pensamento de um grupo ou coletividade aparece como se fosse um discurso individual. Alegou ainda que a proposta do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2006) é analisada através de softwares, como o Qualiquantisoft.

Precisei revisar agora sobre a técnica agora, já que não é minha prática usual de pesquisa. Vi que a técnica do DSC apresenta uma dupla representatividade - qualitativa e quantitativa - das opiniões coletivas que emergem da pesquisa: a representatividade é qualitativa porque na pesquisa com o DSC cada opinião coletiva é apresentada sob a forma de um discurso, que recupera os distintos conteúdos e argumentos que conformam a dada opinião na escala social; mas a representatividade da opinião também é quantitativa porque esse discurso tem também uma expressão numérica (que indica quantos depoimentos, do total, foram necessários para compor cada DSC) e, portanto, possui uma dimensão estatística (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2006).

Do ponto de vista metodológico, não há contradição, assim como não há continuidade, entre investigação quantitativa e qualitativa. Ambas são de naturezas diferentes. A investigação quantitativa atua em níveis de realidade e tem como objetivo trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis. A investigação qualitativa, ao contrário, trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões (SERAPIONE, 2000).

Os métodos qualitativos devem ser utilizados quando o objeto de estudo não é bem conhecido. Por sua capacidade de fazer emergir aspectos novos, de ir ao fundo do significado e de estar na perspectiva do sujeito, são aptos para descobrir novos nexos e explicar significados. De fato, durante a pesquisa, freqüentemente emergem relações entre variáveis, motivações e comportamentos completamente inesperados, que não surgiriam utilizando um questionário estruturado, cuja característica técnica é a uniformidade do estímulo (Ibid).

Nilton arguiu se os anestesiologistas também seriam incluídos entre os sujeitos da pesquisa. Jessé respondeu que sim, pois são médicos que atuam no campo operatório também, ao realizar técnicas anestésicas peridurais e de raquianestesia. Francieudo julgou que os anestesiologistas deveriam ser excluídos, uma vez que eles não realizam a técnica de antissepsia da mesma forma que os cirurgiões. Concordei com esta ponderação. Por outro lado, Ícaro considerou que estes profissionais deveriam ser incluídos justamente por essa razão, para que fosse feita uma comparação de sua prática com a dos demais membros da equipe.

Ramon elogiou a escolha de uma abordagem qualitativa para o projeto apresentado, pois em geral, na área de Medicina, realizam-se mais pesquisas de natureza quantitativa e que raramente se discute este tipo de abordagem. Ele questionou ainda se as referências empregadas no projeto eram atualizadas, sendo esclarecido que sim pelos autores do projeto, que explicitaram as datas de publicação dos trabalhos citados no projeto.

Avaliação do Seminário
O Seminário foi bem sucedido tanto em termos de apresentação do projeto, quanto em relação à discussão posterior com a turma. A discussão foi considerada participativa e dinâmica, com intervenções pertinentes e esclarecedoras.

No projeto, apresentou-se uma temática relevante e uma abordagem metodológica inovadora para a turma e também para esta moderadora. A apresentação dos alunos autores do projeto foi muito boa, objetiva e clara, cumprindo-se o tempo determinado para a exposição.

A duração total do seminário foi de 1h50.

Referências Empregadas no Relatório do Seminário
APECIH. Associação Paulista de Estudos e Controle de Infeccção Hospitalar. Manual de Microbiologia Clínica aplicada ao controle de infecção hospitalar. 2.ed. São Paulo: APECIH, 2004.
CDC. CENTER OF DISEASE CONTROL. Infection Control and Hospital Epidemiology 20:247-278, 1999. Disponível em: http://www.cdc.gov/ncidod/hip/SSI/SSI.pdf. Acesso e: 03 nov. 2010.
GÜNTHER, H. Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta é a Questão? Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 22 (2): 201-210, 2006.
LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C. O sujeito coletivo que fala. Interface (Botucatu). 10 (20): 517-524, 2006.
NICHOLS, R. Preventing Surgical Site Infections: A Surgeon's Perspective. 2001. Emerging Infectious Diseases. 7 (2). Disponível em: www.cdc.gov/ncidod/eid/vol7no2/nichols.htm
SANTOS, I. S.; VICTORA, C. G. Serviços de saúde: epidemiologia, pesquisa e avaliação. Cad. Saúde Pública. 20 (suppl.2): S337-S341, 2004.
SERAPIONI, M. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social em saúde: algumas estratégias para a integração. Ciênc. saúde coletiva 5 (1): 187-192, 2000.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Cirurgias Seguras Salvam Vidas. Tradução de Marcela Sánchez Nilo e Irma Angélica Durán. Rio de Janeiro: Organização Pan-Americana da Saúde, 2009. Disponível em: http://new.paho.org/bra/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=1032&Itemid=423. Acesso em 03 nov. 2010.

Imagem: Helen King /CORBIS: Disponível em http://www.corbisimages.com/




Após a apresentação oral do projeto, passou-se à discussão com os 18 alunos da turma. A ordem de participação destes foi definida por sorteio.