9 de outubro de 2011

Síndromes Extrapiramidais

Por Francisco de Sousa Ataíde
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
Síndromes extrapiramidais são decorrentes de disfunções neurológicas em que ocorrem movimentos anormais caracterizados principalmente por um distúrbio de fluência e velocidade do movimento voluntário ou à presença de movimentos não intencionais. Uma variedade de sinais e sintomas, incluindo rigidez muscular, tremores, alterações características da postura, inquietação (acatisia), distonia e inércia do sistema motor (acinesia) podem ocorrer. Esta disfunção relaciona-se com alterações no sistema extrapiramidal, formado pelos gânglios da base, cerebelo e tálamo, estruturas relacionadas a diversos processos, destacando-se a modulação do controle motor. As síndromes extrapiramidais são manifestações causadas principalmente pela Doença de Parkinson ou pelo efeito colateral de neurolépticos ou antipsicóticos, substâncias usadas no tratamento da esquizofrenia e outras psicoses.

Palavras-chave: Tratos extrapiramidais. Síndromes. Gânglios da base.
O sistema motor extrapiramidal é encarregado da organização dos movimentos de ajustamento postural, dos complexos atos motores de defesa e de alimentação, assim como praticamente todos os movimentos que utilizamos em nossa atividade motora diária. Esta grande soma de funções naturalmente exige que extensas áreas anatômicas do sistema nervoso sejam participantes do sistema extrapiramidal (PORTO, 2005).

Por meio das vias extrapiramidais, algumas estruturas nervosas supra-espinhais exercem influência sobre os neurônios motores da medula, através dos seguintes tratos, que não passam pelas pirâmides bulbares: tratos rubro-espinhal, teto-espinhal, vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal. Suas principais estruturas não corticais são o tálamo, o cerebelo, os gânglios da base, constituídos pelo núcleo lentiforme (putâmen e globo pálido), núcleo caudado, substância negra e núcleo subtalâmico (MACHADO, 2006).

Dentre o sistema motor, o tálamo integra diferentes estruturas do sistema piramidal como córtex motor. Localiza-se no diencéfalo e constituída fundamentalmente por substância cinzenta, na qual pode-se identificar vários núcleos. As lesões talâmicas cursam com as mais diversas síndromes clínicas. As lesões vasculares e tumorais são as que mais frequentemente cursam com comprometimento talâmico.

As principais síndromes clínicas, de acordo com os grupos talâmicos afetados, são: (a) grupo anterior: déficit de atenção, acinesia, alterações de linguagem e amnésia; (b) grupo posterior: hemianestesia, dor, defeitos no campo visual, e déficit de atenção; (c) grupo lateral: perda sensitiva, dores paroxísticas e hemiataxia contralaterais a lado do corpo afetado, principalmente quando sua região posterior é afetada; (d) grupo medial: apatia, agitação, sonolência e coma.

Dentre os diversos quadros clínicos, destacam-se: dificuldade para se manter em pé (astasia), base de sustentação alargada e tendência a queda multidirecional (abasia), marcha ebriosa, incapacidade de atingir um alvo, executando movimentos inapropriados que podem tanto ser interrompidos antes como depois do almejado (dismetria), movimentos realizados em etapas (decomposição), dificuldade de realizar movimentos rápidos, alternantes e coordenados (disdiadococinesia) e  tremores de elevada amplitude e baixa frequência, acentuando-se ao final de um movimento (GODEIRO et al., 2006). Portanto, dentre os sintomas cerebelares, destacam-se aqueles relacionados à incoordenação motora.

Os gânglios da base são responsáveis pelos padrões de execução da atividade motora e auxílio na gradação da intensidade dos movimentos. As disfunções dos gânglios da base podem ser divididas em rígido acinéticas ou hipercinéticas. As primeiras têm, como exemplo, parkinsonismo (idiopático, induzido por drogas como cinarizina, haloperidol, etc.). Ocorre comprometimento da substância negra, levando uma redução da atividade do neoestriado sobre as vias de saída direta e indireta. Há também dificuldade em realizar movimento voluntário, o ques e denomina de acinesia/hipocinesia (MELO et al., 2007).

Em algumas síndromes extrapiramidais, sobretudo na Doença de Parkinson, observa-se uma hipertonia muscular plástica. Essa rigidez parkinsoniana caracteriza-se por nítido predomínio dos músculos flexores. Um sinal frequente na espasticidade plástica (hipertonia extrapiramidal) é o sinal da roda denteada, em que durante o estiramento lento de um músculo observa-se uma resistência crescente que bruscamente cessa para logo começar novamente.

As manifestações coréicas e atetósicas ocorrem principalmente pela diminuição da atividade inibitória do complexo pálido medial/substância negra, levando a uma hiperatividade das projeções do tálamo sobre o córtex. Em decorrência disso, ocorrem os movimentos anormais. O diagnóstico etiológico depende da idade de instalação da doença, história familiar e presença de doenças sistêmicas (HARRISON, 2009).

As síndromes piramidais são estados neurológicos produzidos sobretudo pela Doença de Parkinson ou pelo efeito colateral dos neurolépticos ou antipsicóticos, substâncias usadas no tratamento da esquizofrenia e outras psicoses. Neste último caso, o quadro é reversível e chamar-se-á de impregnação neuroléptica.

Referências
GODEIRO, C. O. et al. Sistema Extrapiramidal: Anatomia e Síndromes Clínicas. Rev Neurociencias, 14 (1): 48-51, 2006.
HARRISON T. et al. Tratado de Medicina Interna, 17ª. Ed, Ed McGraw Hill, Rio de Janeiro, 2009.
MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia Funcional. 2ª Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2006
MELO, L. M. M. et al. Declínio cognitivo e demência associados à doença de Parkinson: características clínicas e tratamento. Rev Psiquiatr Clín, 34 (4): 176-183, 2007
PORTO, C. C. Semiologia Médica. 5a. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

Imagem: medical-dictionary.thefreedictionary.com