4 de fevereiro de 2012

Qualificação dos Periódicos Científicos no Brasil

Por André Augusto Lemos Vidal de Negreiros
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
Existe uma grande quantidade de publicações em diversas áreas do conhecimento. É importante identificar o que é relevante, confiável e qualificado em meio à expressiva quantidade de documentos produzidos. No Brasil, o sistema Qualis avalia a qualidade dos periódicos. Esse sistema leva em conta um critério discutível, o Fator de Impacto, considerado restritivo e causa de insatisfação de muitos pesquisadores. A difusão do conhecimento científico no meio eletrônico deverá exigir a reformulação de indicadores de qualidade.

Palavras-chave: Periódicos. Qualificação. Sistemas.

A publicação de artigos em periódicos tem sido a forma mais importante de comunicação científica. Para isso, foi criada a revista científica, para possibilitar a divulgação de pesquisas pela comunidade científica. Antes de sua criação os resultados de pesquisas eram realizados através de cartas entre os cientistas (BEUREN; SOUZA, 2009).

A atual concepção de produtividade em pesquisa baseia-se principalmente na quantidade de artigos publicados em diferentes revistas, tornando o artigo um "capital simbólico", como afirmam Castiel e Sanz-Valero (2007).

No último século, o rápido aumento do número de títulos de revistas em todas as áreas do conhecimento vem sendo preocupação para os profissionais que se interessam pela qualidade da informação científica. Esse crescimento da produção do conhecimento científico no mundo torna-se irrelevante se não for acompanhado de sua divulgação com qualidade.

Assim, a avaliação de periódicos tem sido objeto de pesquisas desde 1960, envolvendo a busca de parâmetros para dimensionar a qualidade das informações registradas (GRUSZYNSKI, 2006). O sistema de avaliação por pares é um conceito central da comunicação científica, garantindo o mérito da publicação da produção científica de qualidade.

A visibilidade internacional das revistas científicas publicadas no Brasil é pequena, embora sejam editados cerca de 3.000 periódicos, menos de um décimo destes estão indexados na base íbero-americana Scielo (CABRAL-FILHO, 2008).

O critério pelo qual se classificam os periódicos sob os aspectos de forma e mérito (desempenho e conteúdo) serve, atualmente, como referência para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – do Ministério da Educação – MEC – para a classificação das publicações. As características dessas metodologias existentes dizem respeito ao uso de categorias que avaliam o conteúdo dos periódicos (mérito), também chamado aspectos intrínsecos ou intelectuais, e a forma (desempenho), conhecido como aspectos extrínsecos ou materiais (GRUSZYNSKI, 2005; KRYZANOWSKI; FERREIRA, 1998).

O Qualis foi introduzido pela CAPES em 1998, sendo definido como uma lista de veículos utilizados para a divulgação da produção intelectual dos programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Até recentemente estes veículos eram classificados quanto ao âmbito de circulação (Local, Nacional, Internacional) e quanto à qualidade (A, B, C), para cada área de avaliação (ROCHA-E-SILVA, 2009). A Tabela 1 mostra os critérios da classificação na área de Medicina.

O Sistema Qualis avalia anualmente os periódicos das diferentes áreas em categorias A, B e C dentro dos âmbitos local, nacional e internacional. Subdividindo de nível de qualidade, o Qualis possui sete estratos: A1 e A2 (Excelência), B1, B2, B3, B4 e B5 (BAUMGARTEN et al, 2009).

Fonte: ROCHA-E-SILVA (2009)

Até o estrato Qualis B2, leva-se em consideração o Fator de Impacto, um sistema que determina a quantidade de vezes que uma publicação é citada em certo periodo de tempo, dividida pela quantidade de artigos publicados nesse mesmo período. A Thomson Reuters antiga Institute for Scientific Information mais conhecido como ISI utiliza nessa avaliação um período de dois anos. O Fator de Impacto é publicado no Journal Citation Report (JCR).

Os critérios da Qualis são considerados pouco claros, subjetivos e com variação muito frequente, tanto no âmbito de uma mesma área, quanto entre as áreas. As críticas dirigem-se à importância exagerada que estaria sendo atribuída à publicação em periódicos internacionais, a existência de conflitos na interpretação do que é artigo internacional, assim como a necessidade de serem consideradas as condições específicas de cada área. A avaliação da produção científica brasileira está, portanto, limitada a um único e discutível critério, o Fator de Impacto, que é considerado restritivo (ROCHA-E-SILVA, 2009).

A grande variedade de apresentação das revistas nacionais eletrônicas Qualis A e B levou a equipe do Portal de Periódicos da CAPES a recomendar aos editores uma padronização das informações básicas, tendo como referências o projeto SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) (GRUSZYNSKI, 2005).

Em relação ao modelo de acesso, destacam-se dois: a revista científica por assinatura (acesso restrito) e o acesso livre (acesso aberto/open acess). Este último relaciona-se a duas iniciativas, que são a Open Archives Initiative (OAI) e o Movimento de Acesso livre. Ambos visam ao acesso livre e gratuito à informação científica. Entre os princípios do Acesso Aberto destacam‐se: sistema de armazenamento a longo prazo, auto‐publicação, política de gestão com normas de preservação de objetos digitais, acesso para coleta e replicação de metadados, uso de padrões e protocolos que visam a troca de informações entre bibliotecas eletrônicas, e o uso de softwares de fonte aberta (open source) (GRUSZYNSKI,2005).

A esta iniciativa, está associado o programa Open Journal Systems (OJS), da British Columbia University. No Brasil, foi traduzido e adaptado pelo Instituto Brasileiro de Informa-ção em Ciência e Tecnologia (IBICT), originando o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER), disponibilizado em 2004 aos editores científicos. Através do SEER, o periódico ganha rapidez e transparência nos procedimentos editoriais, desde a submissão, avaliação, até a publicação on‐line e indexação. Ao utilizar o protocolo OAI‐PMH, ele possibilita o intercâmbio de metadados, ferramentas de apoio à pesquisa, assim como mecanismos para preservação dos conteúdos (GRUSZYNSKI, 2005).

Outra iniciativa é o projeto SciELO (Scientific Eletronic Library Online), desenvolvido pela FAPESP, CNPq e BIREME. A SciELO é um agregador não-comercial para consulta de periódicos do Brasil e do exterior, selecionados a partir de critérios internacionais de qualidade.Além disso, trabalha os artigos em formato eletrônico estruturados com aplicação do SGML, que alimenta bases de dados, gera circulação, faz com que a informação armazenada seja regatada com agilidade, além da possibilidade de links com outras bases de dados (GRUZYNSKI, 2005).

A área acadêmica impõe tantas variantes de qualidade que os ideais de quantificação para avaliação das publicações têm causado insatisfação de muitos pesquisadores. Atualmente, a divulgação em meio eletrônico e o aperfeiçoamento dos sistemas de busca estão proporcionando acesso a qualquer tipo de publicação em meio eletrônico. Essa revolução na mídia de difusão do conhecimento científico exigirá a reformulação de indicadores como o Fator de Impacto.

Referências
BAUMGARTEN, M. FAGUNDES, R.; MACIEL, E. Avaliação dos Periódicos Científicos: avanços e controvérsias. Porto Alegre: UFRGS, 2009.
BEUREN, I. M.; SOUZA, J. C. Em busca de um delineamento de proposta para classificação de periódicos internacionais de contabilidade para o Qualis CAPES. Rev. contab. finanç. 19 (46): 44-58, 2008.
CABRAL-FILHO, J. E. Revistas cientificas brasileiras: publicar e perecer? Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 8 (4): 361-362, 2008.
CASTIEL, L. D.; SANZ-VALERO, J. Entre fetichismo e sobrevivência: o artigo científico é uma mercadoria acadêmica? Cad. Saúde Pública 23 (12): 3041-3050, 2007.
GRUSZYNSKI, A. C. O design de periódicos científicos: qualificando a produção contemporânea. Anais do 7° Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, 2006, Curitiba.
GRUSZYNSKI, A.; CASTEDO, R. S. O projeto gráfico de periódicos científicos: uma contribuição aos roteiros de avaliação. Em Questão, Porto Alegre, 11 (2): 313-333, 2005.
GRUSZYNSKI, A. C. O design de periódicos científicos na contemporaneidade. In: Anais do VIII Seminário Internacional da Comunicação, 2005, Porto Alegre.
KRZYZANOWSKI, R. F.; FERREIRA, M. C. .Avaliação de periódicos científicos e técnicos brasileiros. Ciência da Informação, Brasília, 27 (2): 165-175, 1998.
ROCHA-E-SILVA, M. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics .64 (1): 1-4, 2009.

Imagem: Jornal da Ciência, SBPC.