22 de abril de 2013

Interface Informação-Saúde

Por Rilva Lopes de Sousa-Muñoz

A área de Saúde ocupa-se do cuidado sanitário integral no setor público e privado do sistema de serviços, através de ações de diagnóstico, terapêutica, prevenção, recuperação e reabilitação, educação para a saúde, assim como da gestão dos serviços de saúde (BRASIL, 2000).
Uma das primazias atuais nesse campo é o reconhecimento de sua complexidade e intersetorialidade. As relações entre o campo da saúde e os demais campos da vida social, econômica e política de uma região ou país tornam-se cada vez mais variadas e complexas (BRASIL, 2004a). Da Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em 1986,  emanou como destaque a consideração de que a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor, apontando-e como diretiva que a promoção da saúde exige uma ação coordenada de governos, setores da saúde, social e econômico, organizações não governamentais e de voluntários, autarquias, empresas e comunicação social, assim como que as populações devem ser necessariamente envolvidas enquanto indivíduos, famílias e comunidades, ou seja, o exercício do controle social sobre as atividades e os serviços  (BRASIL, 2002).
Sobre as ações intersetoriais necessárias para essa grande esfera, está o entrelaçamento dos aspectos sociais e de informação em saúde, que deu origem a um novo campo de conhecimento desde a segunda metade do século passado. A multiplicidade de ações de saúde e a relação profissional de saúde-paciente, a relação entre os profissionais de saúde na equipe de serviço, e entre eles e o pessoal administrativo, a qualidade do atendimento recebido pelos usuários e clientes no sistema de saúde, as campanhas destinadas à população ou a segmentos dela, as intervenções na comunidade, os aspectos tecnológicos envolvidos nos sistemas de informação em saúde, estes são alguns dos elementos que fazem parte da interface saúde e ciências da informação.
Os profissionais de saúde têm que atender a vários tipos de exigências, tanto na assistência propriamente dita, quanto nas limitações do sistema político de saúde, assim como nas condições socioeconômicas e de aprendizagem e trabalho. Entre as necessidades enfrentadas por estes profissionais em um  contexto multifacetado e complexo, está o imperativo da informação.
Informação em saúde é um campo relativamente novo e interdisciplinar, que estuda o emprego de estratégias de comunicação para informar e influenciar as decisões dos indivíduos e da comunidade, para melhorar a qualidade da sua saúde (MORAES, 2008). Gestão de informação em saúde é um campo vasto, ainda em evolução, que incorpora ciências da saúde, tecnologia da informação e outras ciências sociais.
Informação eficaz proporciona uma contribuição decisiva para a promoção da saúde, assim como para prevenção de doenças e de gestão de serviços de saúde. Trata-se de uma área de pesquisa, teoria e prática voltadas a entender e promover intervenções de informação considerando as crenças em saúde e, assim, possibilitando mudança de comportamentos. Temáticas de pesquisa nessa área incluem a interação entre provedor de cuidados de saúde e paciente, redes de apoio social, o Sistema de Informações em Saúde no Brasil (SINASC, SINAN, SIH, SIM, DATASUS, RIPSA), o melhor aproveitamento dos recursos humanos no setor saúde, a humanização das práticas e da atenção à saúde, as políticas e promoção da saúde, a prevenção de doenças, os cuidados inovadores para as doenças crônicas, o financiamento da saúde, a qualidade de vida e a saúde, a utilização da Internet no campo da saúde, e finalmente a repercussão dos elementos dessas temáticas sobre os membros de uma comunidade (BENITO; LICHESKI, 2009; BUSS, 2000; BRASIL, 2010; GALVÃO et al., 2011; GOULART; CHIARI, 2010; LIMA et al., 2006; OMS, 2003; SOARES, 2004).
Um dos principais objetivos de uma das vertentes da informação em saúde é proporcionar que indivíduos e comunidades melhorem comportamentos relacionados ao processo saúde-doença, através do compartilhamento de informação (MORAES, 2008). Existe uma disparidade entre os avanços alcançados pelas profissões da área da Saúde, e sobretudo da Medicina, e o conhecimento e a aplicação destes avanços pela população. Ainda que os profissionais de saúde tenham grandes conhecimentos sobre a prevenção das doenças e a promoção da saúde, não sabem necessariamente comunicar de forma efetiva essa informação tão vital para a sociedade. Em geral, a formação acadêmica dos profissionais da saúde, principalmente dos médicos, não inclui a comunicação interpessoal entre estes profissionais e os seus pacientes, nem entre o próprio profissional com os seus pares e com  o serviço de saúde, tampouco deste com a sociedade. Os valores e crenças dos usuários dos serviços de saúde, seus estilos de vida, suas condições ambientais, políticas, sociais, de trabalho e econômicas são o contexto no qual o profissional da área pode visualizar seus objetos de investigação e intervenção.
Na perspectiva de se desenvolver o cuidado humanizado em saúde, a humanização como política transversal, requer que sejam ultrapassadas barreiras, muitas vezes rígidas, dos diferentes núcleos de saber/poder que se ocupam da produção da saúde (BRASIL, 2004b). Nesse caso, é importante considerar o conhecimento da informação em saúde como uma das ferramentas a serem utilizadas para o desenvolvimento do cuidado integral ao ser humano.
Somente o entendimento e uso de estratégias de saúde específicas e técnicas de informação eficazes pode maximizar a atenção do público, aumentar a conscientização sobre os riscos de saúde, contribuindo para melhorar os níveis de literacia em saúde e promovendo o aumento da probabilidade de adoção de comportamentos e práticas de saúde desejáveis.
Em questões de saúde pública, a participação dos cidadãos é essencial para garantir o sucesso da ação, pois existe a demanda por um esforço individual que assegure benefício ao grupo, com a busca do equilíbrio entre ganho social e pessoal. Por esta razão, a interdisciplinaridade é posta como princípio pedagógico nesta proposta. A informação pode modificar comportamentos e ações de saúde? É possível capacitar pessoas tomando-se por base o conceito da informação em saúde? O que os meios de comunicação falam e como falam sobre os agravos á saúde?  O que falam e como falam as instituições? Como fazem circular sua comunicação? Como a população se apropria das informações e produz sentidos sobre as doenças? Como implementar campanhas eficazes de comunicação, lidar com questões difíceis de cuidados de saúde, e fornecer informações valiosas para a mídia e o público? Estes são alguns dos questionamentos que permeiam as problemáticas inseridas na área da informação em saúde (SAUPE; WENDHAUSEN, 2005
A informação eficaz na assistência ao paciente, organizações de saúde e gestão da saúde visa promover a compreensão de como as técnicas de informação são utilizadas e seu impacto para melhorar a interação entre pacientes, médicos, estudantes, outros profissionais de saúde e o público em geral, através de investigação original, criação de técnicas de informação e divulgação de estratégias eficazes (BRASIL, 2010). Essas ações podem melhorar significativamente as relações interprofissionais, a comunicação interna das unidades de saúde, e entre as unidades, assim como a qualidade dos serviços.
Profissionais com esta visão e conhecimento terão importante papel na sociedade, pois serão capazes de entender e reconhecer as demandas específicas tanto no âmbito local, regional e nacional, funcionando como elementos capacitados para promover e melhorar a eficácia e a eficiência das organizações públicas e privadas, propondo soluções de problemas, geração e aplicação de processos de inovação. Nesse sentido, deverão desenvolver um olhar e uma atitide voltados para ações de caráter estratégico do Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, em 2003, iniciou-se um debate e a preparação de uma proposta política nacional de informação em saúde, integrada à construção de uma agenda estratégica do Ministério da Saúde, como um dos seus objetivos setoriais prioritários (BRASIL, 2004c).
Nesse sentido, é necessária a associação de gestores  em parceria com  as universidades, através de um processo participativo e de intercâmbio, uma política de informação em saúde, em seus vários níveis, tanto no sentido humano quanto tecnológico. 

Referências
BENITO, G. A. V., LICHESKI, A. P. Sistemas de Informação apoiando a gestão do trabalho em saúde. Rev. bras. enferm. 62 (3): 447-450, 2009 . 
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Técnico da Comissão Intergestores Tripartite. 2010. Diretrizes para Organização das Redes de Atenção à Saúde do SUS. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/2b_221210.pdf. Acesso em: 22 abr. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde no Brasil: Contribuições para a Agenda de Prioridades de Pesquisa/Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004a.
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Informação e Informática em Saúde. Proposta Versão 2.0. 2004c. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PoliticaInformacaoSaude29_03_2004.pdf. Acesso: 22 abr. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Projeto Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Educação Profissional: Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnica, Área Saúde. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/saude.pdf. Acesso em: 22 abr. 2013.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva. 5 (1): 163-177, 2000.
GALVAO, M. C.; RICARTE, I. L. M.;  DAURA, A. P. Tecnologia e informação em saúde: modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar. Perspect. ciênc. inf. 16 (4): 73-94, 2011 . 
GOULART, B. N. G.; CHIARI, B. M. Humanização das práticas do profissional de saúde: contribuições para reflexão. Ciênc. saúde coletiva. 15 (1): 255-268, 2010.
LIMA, C. R. A. E., ESCAMILLA, J. A.; MORAIS, O. L. et al. Experiências exitosas brasileiras no campo da Informação em Saúde. 2006. Disponível em: http://new.paho.org/hss/documents/his/bra_por_reporte_completo_sis.pdf. Acesso em: 22 abr. 2013.
MORAES, A. F. Informação estratégica para as ações de intervenção social na saúde. Ciênc. saúde coletiva 13 (suppl.2): 2041-2048, 2008.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: relatório mundial / Organização Mundial da Saúde – Brasília, 2003.
SAUPE, R.; WENDHAUSEN, A. L. P. O mestrado profissionalizante como modelo preferencial para capacitação em Saúde da Família. Interface (Botucatu) 9 (18): 621-630, 2005.
SOARES, M. C. Internet e saúde: possibilidades e limitações, 2004. Revista TEXTOS de la CiberSociedad, 4. Temática Variada. Disponível em: http://www.cibersociedad.ne. Acesso em: 22 abr. 2013.

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